Child of Light x O Labirinto do Fauno

Enquanto estava jogando Child of Light, durante o começo do jogo, me peguei pensando: “Acho que o final do jogo vai ser parecido com o do Labirinto do Fauno”. Foi assim que surgiu a ideia para a postagem dessa semana.

Não acredito que o pessoal da Ubisoft tenha sentado, assistido O Labirinto do Fauno e pensado: “Vamos fazer a versão infantil e não gótica dessa história”, porém, por mais que os dois pareçam ser completamente diferentes, há alguns paralelos interessantes.

Essa postagem possui spoilers tanto de Child of Light quanto de O Labirinto do Fauno. .

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  • Era Uma Vez…

Ambas as histórias começam e terminam com narrações típicas de contos de fadas. No começo do filme e do jogo, as personagens principais são apresentadas e ambas são relacionadas com um mundo mágico. Aurora está presa nele, enquanto Ofélia não sabe que na verdade ela faz parte dele.

No final, as duas histórias concluem as jornadas das duas personagens com outra narração, novamente típica de conto de fadas, dando um ar de final feliz.

  • O pai e a princesa

Tanto Child of Light quanto O Labirinto do Fauno estabelecem uma relação entre pai e filha. No jogo, é dito que Aurora possui uma relação muito próxima a do seu pai, o duque, que a criou sozinho depois que a esposa faleceu. Em O Labirinto do Fauno, mesmo sofrendo por sua filha ter fugido para o mundo dos humanos, o rei espera porque sabe que um dia ela vai achar o caminho de volta.

  • Aurora x Ofélia

aurora ofélia

As duas protagonistas possuem muito em comum. Ambas são meninas que estão em uma situação completamente nova, enfrentando o desconhecido. Tanto uma quanto a outra perderam um dos pais e são próximas do que restou. Como apontado antes, ambas são princesas de mundos paralelos ao mundo dos humanos.

Tanto Aurora quanto Ofélia são personagens crianças para simbolizar inocência e a perda desta, uma fase de descobertas que no final resultará em amadurecimento. Elas são corajosas e enfrentam o desconhecido, além de terem o mesmo objetivo: voltar para casa.

  • Madrasta má x Padrasto mau

Tanto a mãe de Aurora quanto o pai de Ofélia estão mortos, fazendo com que o pai restante se case novamente. A madrasta de Aurora, Umbra, é a responsável por mandar a garota para Lemuria, porque queria se livrar da princesa e ter certeza de que quando seu pai morresse, ela teria todo o poder sob as terras dele.

No caso de Ofélia, o padrasto a destrata e apenas quer que sua mãe tenha um filho dele. No momento que a mãe de Ofélia não está mais no caminho, o desprezo que ele tem por Ofélia fica mil vezes mais evidente, até partindo para agressões físicas. O embate final das duas histórias são as princesas contra madrasta/padrasto, onde a “luz” delas acaba vitoriosa.

  • Quero voltar para casa

Aurora é jogada no reino de Lemuria depois de sua “morte” no mundo dos humanos. Ela fica sabendo que seu pai está doente e que seu país está afundando, portanto precisa voltar para casa. Todas as main quest do jogo são relacionadas a essa jornada, por mais que Aurora queira o bem dos habitantes de Lemuria, sua prioridade é voltar pra casa.

Ofélia é um pouco diferente. Ela se sente deslocada e fala várias vezes que quer ir embora. No começo do filme, a narração diz que o rei espera que o espírito de Ofélia ache seu próprio caminho de volta para o mundo subterrâneo, sua verdadeira casa. Apesar de Ofélia não saber exatamente, ela está tentando voltar pra casa e no fundo, dá a entender que ela sempre soube que não pertencia ao mundo dos humanos.

  • Amadurecimento

No caso de Aurora é mais palpável. Ela literalmente cresce de criança para adolescente perto do final do jogo, quando descobre que caiu em uma armadilha, perdendo um pouco da inocência da criança. Ela aprende que não pode confiar cegamente em todo o mundo e que mesmo pessoas próximas dela podem machucá-la.

Apesar de Ofélia não crescer fisicamente, das duas, ela é a que passa pelas situações mais difíceis. Quando falha na sua segunda missão, perde sua liberdade e tenta consertar seu erro para que o fauno não desista de levá-la para o mundo subterrâneo.

  • “Eu sou… Uma princesa?”

Mesmo sendo filha do duque, sempre que chamam Aurora de princesa, ela diz que não é, mostrando que sua coroa é falsa. Só perto do final do jogo que Aurora e o jogador descobrem que na verdade ela é a princesa de Lemuria e sua mãe é a rainha.

Ofélia descobre a verdade bem mais cedo. A primeira vez que ela vê o fauno, ele diz que Ofélia é na verdade a filha do rei do subterrâneo e que ela deve voltar para sua família. No caso do filme, se a revelação não tivesse sido feita no começo da história, não haveria motivo para todos os acontecimentos do filme.

  • Luz

Em ambas as obras as personagens principais ouvem de algum outro personagem que são “feitas de luz”. No jogo é óbvio, o nome do jogo é “Criança de Luz”, além de logo no começo Aurora ouvir isso de alguns personagens. O jogo todo é trabalhado com o elemento luz, muitos dos enigmas precisam da ajuda de Igniculus para iluminar a resposta, muitos inimigos são fracos contra luz…

No caso de O Labirinto do Fauno não é tão óbvio, a única menção feita durante o filme é logo no começo, quando o Fauno diz para Ofélia “A luz a fez”. Enquanto Child of Light mostra luzes o jogo inteiro, o filme faz o contrário. A arte e a fotografia deixam todo o ambiente do filme escuro e sem cores vibrantes, porque Ofélia é a única luz naquele mundo cheio de guerra, ela é a única que entende e acredita na magia e portanto a única luz de lá, tanto que no final, quando ela se encontra com seus pais reais no mundo subterrâneo, a arte muda totalmente para cores claras e vibrantes.

  • Mundo subterrâneo

Em O Labirinto do Fauno é fácil, o reino de onde Ofélia vem é mencionado como “subterrâneo” várias vezes, porém não há nenhum indício durante Child of Light que mostre que Lemuria fica no subterrâneo, até que na internet, achei essa parte do artbook do jogo:

cypress

Cipreste: historicamente associado ao subterrâneo, simboliza a vida eterna e o entendimento do sacrifício

Nessa parte do livro é explicado o porquê das imagens usadas no símbolo de Lemuria, sendo que uma delas faz ligação ao subterrâneo.

  • O Renascimento.

Ambas as personagens renascem após serem derrotadas pelos seus “inimigos” (entre aspas porque apesar do padrasto de Ofélia não ser um inimigo direto, ele é o vilão da história). Após o momento de suas “mortes”, elas renascem mais fortes e alcançam o seu objetivo inicial.

Umbra derrota Aurora, porém com ajuda de seus amigos e de sua mãe, Aurora consegue renascer e dessa vez ela tem força o suficiente para derrotar Umbra e salvar Lemuria. No caso de O Labirinto do Fauno fica mais aberto para interpretação. O padrasto de Ofélia a encontra com seu meio irmão no colo, ele a mata e vai embora com o bebê. A cena em que encontram o corpo Ofélia é alternada com uma cena dela finalmente chegando no mundo subterrâneo, não se sabe se é verdade ou um delírio da menina antes de morrer, mas se interpretarmos ao pé da letra, Ofélia morre e renasce no mundo que ela estava tentando chegar desde que descobriu a verdade sobre si.

  • Quando tudo parece dar errado

Esse momento está diretamente ligado à morte do “pai restante”. Aurora assiste seu pai morrer por um dos espelhos de Umbra, logo em seguida perde sua coroa falsa que a protegia e é “morta” pela madrasta.

No caso de Ofélia, a mãe dela morre depois de um parto difícil e o padrasto não vê mais nenhum motivo para tratar Ofélia bem, destratando a menina, trancando ela em um quarto sozinha, maltratando-a fisicamente e até a acusando de traição (lembrando que o padrasto de Ofélia é do exército durante segunda guerra mundial na ditadura de Franco na Espanha). Isso é seguido do momento em que o fauno diz que Ofélia não poderá mais voltar para seu lar porque falhou na segunda missão.

  • Sacrifício

Nas duas histórias, vemos a questão do sacrifício e como isso mostra a “força” da personagem principal. De forma indireta, Aurora sacrifica algo que ela ama, seu pai, para o bem de Lemuria. Umbra diz para Aurora que ela pode voltar imediatamente se ela parar sua jornada de salvar o reino. Muito provavelmente ela estava enganando Aurora, mas de qualquer forma, a princesa diz não porque ela tem um dever maior. Além disso, se voltarmos para a interpretação do cipreste: “simboliza a vida eterna e o entendimento do sacrifício”. Também, no final do jogo, há um diálogo entre Igniculus e a mãe de Aurora onde dá a entender que a princesa não teve tempo para falar com a mãe (que ela acreditava estar morta há anos) porque como nova rainha de Lemúria, Aurora tinha outras preocupações.

A última tarefa de Ofélia é derramar “sangue inocente” para abrir a porta do mundo subterrâneo. Mesmo o fauno dizendo que só uma gota de sangue é o suficiente, em todas as histórias que envolvem “derramar sangue inocente”, nós pensamos em sacrifício. Ofélia diz que não vai machucar o irmão e acaba morta pelo padrasto, então vemos que o sangue da própria menina cai na porta do mundo subterrâneo e a cena é seguida da sequência que vemos Ofélia alcançando seu objetivo. Certo, Ofélia não teve escolha em derramar seu próprio sangue, mas ela prefere sacrificar a própria felicidade (e também seu sangue e vida, eventualmente) do que machucar uma pessoa inocente.

  • Fim

Finalmente, as duas voltam pra casa. No caso de Aurora, duas vezes. Ela volta pra casa que ela conhecia para salvar as pessoas da inundação e depois volta para casa Lemúria e se torna rainha. Aurora não sabia que lá era seu lar, mas quando descobre, decide ficar na sua verdadeira casa. Com Ofélia é mais fácil entender, a trajetória dela sempre foi voltar para sua casa no mundo subterrâneo e ela consegue.

Porém os dois finais são ambíguos, o de Aurora menos que o de Ofélia. Na conversa entre Igniculus e a mãe de Aurora, dá a entender que a nova rainha de Lemuria ainda tem muita coisa pra fazer, mas o que? Pra onde ela foi? Não sabemos, só sabemos que ela está cumprindo seus deveres de governante. Já no caso de Ofélia não sabemos ao certo se ela só morreu e delirou com seu “final feliz” ou se realmente chegou no subterrâneo como planejado, mesmo que a narração do final deixe a entender que ela conseguiu voltar pra casa, fica aberto para interpretações.

 

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