Em geral: Fazia tempo que um episódio de Game of Thrones me deixava feliz. Não só em algumas partes, mas um episódio que consegue, em boa parte, ser empolgante e bem escrito. Ao contrário dos segundos episódios de outras temporadas, o episódio “Home” foi mais tenso que o esperado para esse começo, com reviravoltas e descobertas importantes para o resto da série. Além disso foi um episódio sem estupro ou nudez desnecessária. Viu como vocês conseguem quando querem, HBO?
Inclusive queria dizer aqui que, depois desse episódio, me pergunto se o fato dessa temporada não ser oficialmente baseada em nenhum livro, já que Os Ventos do Inverno ainda não foi lançado (e sabe lá quando será), na verdade está ajudando a série. Senti que até os menores detalhes estão ficando melhores, não sei se a falta de livros permite uma maior liberdade criativa dos roteiristas, ou talvez eles tenham ouvido as reclamações das últimas temporadas e até mudado algumas pessoas da equipe, vai saber.
O resto do texto tem spoilers do episódio.
Home começa com uma cena de Bran usando seus poderes para ver o passado. Foi divertido ver o Ned novo, mas o que me fez vibrar mesmo foi Lyanna no cavalo, nos livros Ned sempre dizia que Lyanna era muito parecida com Arya, então apesar de na aparência e nas roupas não ter semelhanças, foi legal ver ela no cavalo e depois dizendo para Hodor (que fala!) como derrotar Benjen em batalha, o que mostra que ela também parece entender algo de lutas.
Isso tudo me deixa muito empolgada para as próximas memórias que Bran vai ver, certamente esse poder vai revelar muitas das perguntas que ainda temos. Além da memória em si, é interessante ver como Bran realmente quer continuar dentro daquele momento, lá as coisas são mais fáceis e pacíficas, além de que ele pode andar. Fico me perguntando se toda a frase “o oceano é lindo, mas se ficar muito tempo vai se afogar” é uma espécie de dica para o futuro de Bran, será que ele vai se perder nessas visões ou ficar tanto tempo que vai sofrer pra voltar?
Apesar de Bran parecer feliz, Meera definitivamente não está. Não é pra menos, além de não ter nada pra fazer, seu irmão morreu, não me surpreenderia se ela meio que culpasse Bran por isso ou tivesse algum rancor, até porque nos livros é bem possível que isso aconteça. Aparentemente Bran não vai terminar seus dias com o Corvo, já que uma das criaturas diz para Meera que Bran precisará dela quando sair dali.
Na muralha as coisas vão ficando mais tensas e não é pra menos, a patrulha ainda não conseguiu se livrar do corpo de Jon Snow já que Davos dificulta a vida deles. Gostei de ver os selvagens chegando “para o resgate” e até fiquei surpresa com uma quase luta tão cedo.
Em Porto Real as coisas também parecem estar por um fio. Aqui queria fazer uma pausa para uma reflexão. Praticamente todo o texto que eu escrevo sobre Game of Thrones e critico a representação das mulheres, alguém diz que “naquela época era assim” ou “a série precisa mostrar isso”. Eu pretendo fazer um texto só sobre o assunto, mas esse episódio deu um ótimo exemplo de como mostrar uma sociedade machista sem humilhar ou agredir uma mulher em cena. Um homem está no bar se gabando para outros como Cersei ficou olhando para seu pênis, o que é uma mentira gigante, mas não importa porque a maioria está rindo. É praticamente mágica: vimos como os homens dessa sociedade são machistas sem mostrar ninguém sendo atacada! Melhor ainda foi vendo Robert Strong esmagando a cabeça do cara, que também serviu para mostrar como esse personagem é perigoso e que Cersei está, de certa forma, de olho em seus inimigos e buscando vingança.
Vemos mais uma vez como Tommen quase não tem autoridade como rei e como o Alto Pardal e seus seguidores são espertos. Primeiramente ele sabe o quanto Tommen é hesitante, então usa de seu discurso da fé para manipulá-lo. Quando Jaime, mais velho e mais esperto, não cai, ele usa da ameaça física. Eu acho interessante os discursos do Alto Pardal falar das pessoas pobres que estão cansadas de sofrer nas mãos dos nobres, mas quando vejo os fanáticos não dá pra não me perguntar “Será que eles realmente querem o melhor para os mais pobres ou são só mais um grupo buscando poder?”. Apesar de ainda achar o desenvolvimento de Jaime muito raso nos últimos tempos, em geral Porto Real está ficando mais e mais interessante e nessa temporada provavelmente cabeças vão rolar por lá.
Até as cenas de Tyrion, que andavam me entediantes, foram mais interessantes, e aqui quero apontar de novo o que já disse no começo do texto. Até nos pequenos detalhes e diálogos a qualidade do episódio parece superior aos outros. Alguns discursos de Tyrion na quinta temporada entediavam, mas nesse episódio foram muito importantes. O anão mostra que tem muito mais experiência que a mãe dos dragões em governar (até porque passou anos na política) e passa tranquilidade mesmo sabendo que toda a baía dos escravos, tirando Meereen, foi reconquistada pelos mestres.
Aí ele vai ver os dragões e é uma cena muito legal. Não só pela cena em si, mas pra mostrar uma característica do Tyrion que normalmente só víamos nos livros: Seu amor por dragões. Ele conversa, expõe mais um pouco do bullying na infância e consegue fazer algo que pouquíssimos personagens fariam, que é libertar os dragões, tudo com uma dose meio clichê, mas bem feita de “Os dragões reconhecem quem quem é mau”. No final ele parece arrependido de passar por esse risco, mas certeza que isso vai resultar em alguma cena que Viserion e Rhaegal vão retornar o favor.
Não há muito de novidade na parte de Arya, talvez uma das cenas menos empolgantes do episódio. Apesar da atuação de Maisie Williams demonstrar a frustração da personagem, a cena simplesmente move o arco de Arya para frente (o que não é ruim, só menos que os outros personagens do episódio).
Ninguém brincou quando disse que muita gente ia morrer nessa temporada. Não previa que Ramsay matasse o próprio pai, apesar de não achar fora do personagem, afinal sabemos que Ramsay é capaz de tudo pra conseguir o que ele quer. Os Karstark aparentemente aprovam essa mudança, o que me deixou surpresa também, não precisa de muito pra saber que Ramsay é instável e não confiável, mas talvez os Kastark estejam com tanta vontade de poder quanto o bastardo.
Aliás, falando em bastardo, Ramsay matar o irmão já não me surpreendeu tanto, era o esperado, eu só achei que ele fosse ser mais discreto em relação a isso. Obrigada HBO por não mostrar Walda e o bebê serem devorados por cachorros, já vimos cadáveres horríveis, inclusive de mulheres, na série, então tô feliz de não ter visto isso. Com certeza foi bem violento, mas considerando que é o Ramsay, a ação dele encaixou com o personagem.
Ver Sansa segura sempre me faz sorrir, mas a cena dela foi meio morna e me incomoda um pouco como às vezes Theon acaba se sobressaindo nesse núcleo, quando eu acredito que ela devia ser o centro. De qualquer forma foi legal ver ela descobrir que Arya está viva e Brienne garantindo que ela não era culpada por tudo que aconteceu (é Sansa, relaxa, os eventos da quinta temporada são tudo culpa dos produtores ruins que a série tem). Já que Theon talvez se afaste desse núcleo, me pergunto se ele não vai participar dos próximos acontecimentos das Ilhas de Ferro.
Antes de chegar nos Greyjoy, vamos falar um pouco mais do Norte. No livro, a gota d’água para a morte de Jon é ele querer atacar os Bolton em Winterfell para salvar Arya (que não é Arya, mas ele não sabe). Tudo indicava que ia ter um conflito entre muralha e Bolton, mas quando ele morreu eu descartei essa luta. Já que Ramsay parece bem interessado em marchar para a muralha, será que o confronto Muralha x Bolton ainda vai rolar, só que no caso a irmã que precisa ser salva é Sansa?
Finalmente voltamos para as ilhas de Ferro, que era o núcleo mais atrasado até agora. Vemos Yara (ou Asha) infeliz em como seu pai governa e o evento que os leitores já sabem há algum tempo: Balon morre. Nos livros isso resulta em uma reunião no melhor estilo Ilhas de Ferro para decidir quem vai governar no lugar. Na série, provavelmente os grandes candidatos serão Yara e Euron (sim, o irmão é Euron, caso você esteja se perguntando). Finalmente o último rei da “guerra dos cinco reis” morreu. Dica: As cinco rainhas ainda estão vivas (ou quatro, já que Arianne nunca foi para a série, mas aí poderíamos considerar Ellaria?).
Na próxima cena da muralha, a série faz um paralelo muito interessante com Davos e Melisandre. Ele sempre foi o “ateu” do grupo, desacredita de qualquer coisa divina e o contato com Melisandre que fez ele ir repensando no que acreditava. Ao mesmo tempo, a feiticeira tem muita fé em R’hllor e nos últimos episódios vem perdendo sua fé. É muito interessante que seja Davos que a convença a não desistir, tudo bem que ele ainda não sabe de Shireen e tinha interesses pessoais, mas eu gostei dessa interação mesmo assim. Ainda me pergunto se o Davos que conhecemos, que odeia a magia de Melisandre, realmente faria isso, mas tudo bem.
E aí vamos falar do elefante na sala: Jon Snow volta. Eu confesso que achei que Melisandre ia falhar agora e tentar de novo mais tarde, em um momento mais vida ou morte, e perceber que ela é forte sim e não pode perder a fé. Mas depois do episódio, achei bom que foi como foi, afinal vai saber como ia ficar o corpo do Jon se passasse mais tempo. Acredito que o arco de “se duvidar” da Melisandre vai continuar mesmo assim, com ela indo aos poucos fazendo coisas incríveis e percebendo que ela viu certo, apenas interpretou errado (a grande batalha da qual ela fala pode ser minha teoria entre Muralha x Bolton). Realmente espero que a série não jogue esse momento de Melisandre fora, é muito importante pra personagem.
Obviamente outra coisa que me deixa empolgada é a volta de Jon. Todo o personagem que voltou da morte veio muito diferente. Beric Dondarrion ressuscitou algumas vezes e ele diz que perdeu um pedaço dele toda a vez. Quem leu os livros sabe que Catelyn volta como Lady Stoneheart e ela tá muito diferente. Talvez Jon volte de uma forma menos boazinha. Talvez ele nem lembre partes da vida dele, o que seria também muito interessante. Não sei como serão as mudanças, mas eu espero que elas existam, Jon voltar exatamente como é como se só tivesse se machucado feio não vai ser tão enriquecedor e muito menos faz sentido com a obra de George Martin. Trazer personagens da morte é uma técnica complicada numa história, precisa ser usada muito bem para que faça sentido (Supernatural é um exemplo de como não fazer isso). Sempre que Martin trouxe alguém de volta, esses personagens pagaram um preço caro, então espero que Jon também passe por isso. Enfim, pode gritar um “eu sabia”?
Eu tô bem feliz com esse episódio, como eu disse não teve um estupro, nudez desnecessária e os núcleos que pareciam mais empacar a história deram espaço para os que precisavam ser desenvolvidos. Talvez a falta de um livro pra se guiar tenha melhorado a criatividade da equipe ou talvez eles tenham ouvido as críticas, de qualquer forma algo mudou que fez com que esse episódio fosse realmente bom. Espero que continue assim.