Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos

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Pode ler feliz porque essa crítica não tem spoilers.

Antes de começar, gostaria de agradecer ao Women Up Games por ter me chamado para assistir a pré-estreia do filme!

Filmes baseados em jogos são sempre um assunto um pouco complicado. Nós que jogamos sempre brincamos que as adaptações para o cinema nunca ficam boas, mas mesmo assim várias pessoas entraram na hype da adaptação de World of Warcraft. Eu nunca joguei WoW, não conheço muito sobre o universo, mas como amante de cinema e de jogos eu achei que talvez fosse o primeiro encontro decente de dois mundos.

A minha conclusão é que é e não é ao mesmo tempo. World of Warcraft não é um filme ruim, ele diverte, trata de uma temática interessante, chama a atenção e tem seus acertos. Mas infelizmente ele tem falhas que não dá pra colocar o filme como ótimo.

O reino de Azeroth vive em paz já faz algum tempo, mas como estamos falando de uma fantasia medieval, isso vai acabar logo. O mundo dos orcs está sendo destruído e para não morrerem, eles abrem um portal para outro mundo. Os orcs chegam nesse mundo para conquistar e conseguir uma nova casa, destruindo vilas e matando quem entre no caminho, então as raças de Azeroth precisam se juntar para impedir a nova ameaça.

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O filme tem efeitos incríveis, tudo é visualmente bonito e particularmente a animação das magias foram as minhas preferidas, mas tudo estava bem legal. Junto com efeitos que chamam a atenção, em vários momentos a fotografia me surpreendeu com ângulos diferentes do que eu imaginaria, mas que encaixam com a cena. Toda a ambientação de Azeroth é linda, não sei se está fiel, mas para quem assiste sem saber de nada foi bem convincente.

As lutas são divertidas e mesmo com outras falhas, que vou falar em breve, eu me peguei em vários momentos agoniada com o que ia acontecer e querendo saber o resto da história. Não são em todas as cenas, mas o filme consegue em vários momentos te manter curioso com o que vai acontecer.

Mesmo não conhecendo o mundo de WoW, dá pra ver que é um filme feito para fãs. Não só porque eu já sabia que o diretor, Duncan Jones, é fã de WoW, mas também porque tentei assistir o filme de uma perspectiva gamer. Vou explicar melhor. Enquanto assistia WoW, pensei em outros universos de jogos de fantasia medieval. Pensei que, se eu visse um filme desse jeito sobre um outro universo que eu acompanhe, digamos Dragon Age, eu estaria pulando na cadeira e querendo ver de novo mais umas mil vezes.

E é aí que está uma das maiores falhas do filme. Uma pessoa que não conhece esse universo de antes não vai conseguir acompanhar tudo. O público que não é fã do jogo pode até se divertir, como eu me diverti, porque é um gênero que eu gosto muito, mas também vai ficar confuso como eu fiquei, sem entender quem são aquelas pessoas, porque muito das coisas então acontecendo, etc.

Film Title: Warcraft

A primeira grande falha então seria a construção do roteiro. Eu gosto de filmes que já te jogam no meio da história, sem necessariamente uma introdução e que vão te explicando ao longo do filme o que está acontecendo. Warcraft te joga no mundo de Azeroth, mas nunca explica para a audiência que não jogou o que está acontecendo. Nós sabemos que o mundo dos orcs está morrendo e do conflito entre eles e Azeroth, mas além disso todo o resto é confuso. Eu posso tentar adivinhar a função do Guardião, o que faz aquela guilda dos magos, o tipo de personagem que Lothar é… Mas é isso, adivinhação, porque o filme não me dá chance de saber quem são aquelas pessoas. Lothar, Durothan e Garona possuem um pouco mais de desenvolvimento já que conhecemos a história deles, mas a maioria dos outros parecem personagens rasos, quase estereótipos fantásticos medievais: “o grande mago”, “o rei bondoso”, “o mago do mal”, etc. Mesmo gostando muito de personagens como Draka e Khadgar, sinto que faltou nesse ponto.

O ritmo do filme é um pouco esquisito também, além dos atos não serem muito bem divididos. Vai tudo acontecendo muito rápido, talvez um pouco mais de cortes e uma duração maior de filme tivesse resolvido o problema. Warcraft tem duas horas, eles podiam ter colocado mais algumas cenas, poderia ter dado certo e explicado melhor certos furos.

Muitas vezes personagens tomam decisões que você nunca vai saber quais foram suas motivações. Há uma mudança brusca em um dos personagens em certo momento que eu estou aqui até agora tentando entender o que culminou isso. Um personagem não pode simplesmente fazer algo que não faria antes porque sim. Você não prende alguém do exército inimigo e deixa a pessoa andar solta e sem proteção ao redor do rei, por exemplo.

As atuações também não convencem muito. Há mortes no filme que deveriam ser de peso, mas tanto roteiro quanto atuação falham em criar um vínculo entre os personagens para que o peso dos sacrifícios pareça maior. Teve uma morte que conseguiu fazer isso, mas levando em conta que é um filme de guerra e várias pessoas morrem, se só uma te causa emoção, é porque algo faltou no resto.

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As mulheres do filme tem seu peso e sua presença, mas ainda são poucas se comparando ao número de homens (como não conheço o original não posso dizer se houve corte de mulheres ou se eram esses mesmos os personagens). Garona é uma das principais e é muito interessante, apesar de em certos momentos ser reduzida ao interesse romântico. Draka com certeza é uma das minhas favoritas, ela é mãe, forte e vai quebrar sua casa se precisar. A Rainha de Azeroth também tem uma presença interessante, mas o pouco espaço e informação sobre ela faz seu papel ficar mais apagado, talvez uma continuação pudesse melhorar isso.

O problema de Warcraft é uma das grandes questões das adaptações. O filme é uma mídia diferente da original, que no caso é um jogo e mais tarde livros, quando trazemos isso para o cinema é porque queremos expandir o público, trazer novos fãs, deixar outros curiosos para conhecer esse universo, além de agradar a base de fãs já existente. Eu confesso que tive vontade de pegar os livros para conhecer, mas sei que isso é parte da minha frustração em não entender o universo com um amor por fantasia medieval. Eu não acho que o filme falhe totalmente em trazer mais fãs para a saga, eu acho que para alguns pode funcionar como funcionou pra mim, mas para outros há um risco sério de ficar entediante.

A adaptação precisa funcionar além da sua obra original. Imagina só como seria se só entendêssemos os filmes de O Senhor dos Anéis se lêssemos todos os livros? Conhecer mais do universo é legal e é bom que o cinema incentive isso, mas precisamos lembrar que não é todo mundo que topa ler uma obra grande como a de Tolkien ou a quantidade de livros que WoW tem. Eu acho muito legal mesmo que Warcraft tenha se dado ao trabalho de fazer um filme que os fãs possam ter um momento nostalgia, mas não dá pra esquecer que tem um público novo que vai assistir e eles também precisam entender o que está acontecendo.

Warcraft provavelmente é um filme bom pra quem já é fã, mas pra nós que não conhecemos vai ser um filme que não é nem horrível e nem incrível. Não dá pra eu dizer que é ruim, até porque me divertiu mesmo eu não entendendo tudo, mas não dá pra dizer que é uma adaptação ótima quando falha em coisas básicas.

Então se você tá se perguntando se deve ou não ver o filme: Se você for um fã do universo de WoW, sem dúvidas é um filme que você vai gostar. Acho que se você for que nem eu, que não conhece, mas gosta de jogos e de fantasia medieval, também vale o ingresso, mas vai sabendo que você não vai necessariamente entender tudo. Agora se você não curte muito nada dessas coisas, talvez seja melhor deixar pra lá.

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