Depois de vários vídeos, imagens, entrevistas e muitas informações “vazadas”, Esquadrão Suicida finalmente chega aos cinemas. Essa primeira parte da crítica será sem spoilers. Também aproveito esse momento para fazer uma reclamação: Ainda não recebi a grana da Marvel por falar mal da DC, acho um absurdo esse atraso nos pagamentos.
Dirigido por David Ayer, Esquadrão Suicida começa com Amanda Waller (Viola Davis) querendo formar uma equipe composta de prisioneiros muito perigosos. Ela acredita que, para os Estados Unidos enfrentarem as novas ameaças que virão, é preciso de pessoas poderosas que não teriam nada a perder entrando em missões extremamente perigosas. Ou seja, os vilões.
Pelo começo do filme, me pareceu que seria divertido. O filme faz questão de apresentar os personagens principais, que é bem legal para quem ainda não conhece ou não lê os quadrinhos e só conhece aquelas pessoas pelo nome. Visualmente é bonito, parece que o estilo da edição pode ser interessante, a trilha sonora é legal… Mas o filme não se sustenta. Depois da primeira parte dá para ver como a edição é falha e que as cores do filme não salvam. Depois que a curiosidade inicial passa, o filme não consegue prender a atenção do público e isso se dá por uma série de erros.
O roteiro é falho. Ele até tem um começo e aponta o lugar que pretende ir, mas todas as formas que o roteiro vai se montando e se conectando simplesmente não funcionam. As coisas simplesmente acontecem porque o roteirista quis, as motivações dos personagens não fazem sentido e não convencem.
Há um momento específico que o filme faz um suspense sobre o que solta a “força do mal”, você compra a cena não ser totalmente explicada no começo porque poderia ser uma revelação legal, mas quando finalmente a resposta aparece, é algo que nós já sabíamos, um suspense desnecessário e barato.
E aí que tá o grande problema, o filme inteiro tem resoluções baratas e motivações rasas. O roteiro não sabe trabalhar seus personagens o suficiente para fazer o público comprar o que está acontecendo. Não que precise de um grande motivo filosófico para eles agirem, mas algo coerente o bastante com o universo em que a trama está inserida.
Há alguns personagens que se destacam, não por roteiro e direção, mas por atuação. Will Smith faz um bom trabalho e funciona como Pistoleiro, mas dá para perceber bem que é um trabalho bom do ator, que acaba não sendo melhor porque a produção do filme não ajuda. Outra que é boa independente do resto é Viola Davis, uma atriz incrível que, mesmo em uma história mal feita, consegue ter espaço e mostra o quão boa é.
Ah, a Arlequina… Por onde começar? Eu não acho que o problema tenha sido necessariamente a Margot Robbie, mas os diálogos da personagem eram bem complicados. Muitas das piadas do filme vinham dela, mas simplesmente não funcionava. Esquadrão Suicida tentou puxar para o filme de super-herói “engraçadinho”, mas no máximo duas piadas funcionam. E aquelas coisas todas que já sabíamos estão no filme: Sexualização, roupas que não fazem sentido, ângulos de câmera completamente absurdos… Agora já podemos falar com autoridade: o filme sexualiza sim a Arlequina, e isso é um ponto muito negativo.
O Capitão Bumerangue e a Zatana parecem estar lá só para fazer volume, seus personagens mal encaixam na história. A Magia também é um dos grandes pontos negativos, não só a personagem é mal escrita, mas a atuação de Cara Delevingne não ajuda, além dela também ser sexualizada.
Jared Leto como o Coringa é desastroso. Eu tentei tirar todas as minhas imagens do Coringa da mente antes de ver o filme, tentando evitar comparações e ver se assim eu poderia gostar mais dessa versão. Mas não, simplesmente não funciona, parece uma junção mal feita de vários estereótipos do Coringa, que resulta em uma espécie de gangster que, sinceramente, também não parece encaixar com tudo que está acontecendo.
O filme esquece de desenvolvimento de personagem e dinâmica de grupo, aí no final eles esperam que a gente se convença com o desfecho e compre aquelas interações. Nem as cenas de ações divertem, talvez a primeira, até pelo fator “novidade”, o público preste atenção, mas depois cai no mais do mesmo, com uma edição que deixa tudo mais confuso.
Imagino que a ideia da produção era se sustentar em “personagens e momentos divertidos”, mas isso também precisa ser bem pensado para funcionar. No final das contas é isso que vira Esquadrão Suicida: Uma junção de personagens que no começo parecem que vão ser legais, com uma série de momentos que tentam ser marcantes, sem uma conexão bem feita entre eles. Talvez com isso a DC perceba que não basta marketing e “piadinhas de super-herói” para um filme funcionar.
Agora farei algumas considerações com spoilers.
Toda a questão de “A criação do Esquadrão Suicida é o que faz o inimigo surgir” poderia ter sido muito interessante, mas o filme acelera qualquer momento que pareça que vai explicar alguma coisa da história. Magia vira a vilã do filme no momento em que é apresentada como possível integrante do Esquadrão Suicida. Além da personagem usar roupas bem sexualizadas, ela consegue escapar de Amanda de uma forma quase tosca. O filme demora para mostrar exatamente como isso aconteceu, mas quando mostra são apenas alguns segundos a mais de cena que só mostram… Ela fugindo, simples assim, ignorando toda a “prisão” que Amanda apresenta no começo do filme.
E a grande motivação de Magia? “Agora os humanos reverenciam máquinas e não eu, vou matar todos”. Em um filme que fala sobre os vilões é triste ver que a vilã que precisa ser enfrentada tem uma motivação tão fraca. Cara Delivingne interpreta Magia com “dancinhas” esquisitas e beijos que transformam homens em criaturas malignas. É, pois é, uma vilã que na verdade não consegue se controlar por causa de uma força do mal antiga que odeia máquinas. Ah sim, e ela precisa ser sexy, porque esse é o nível da criatividade dessa produção.
Já comentei que a Arlequina está ruim como nós vimos nos trailers, mas agora quero falar da origem da personagem. O filme parece tentar dizer “olha, foi a Harley que escolheu estar do lado do Coringa”, mas falha logo no começo. A origem da personagem é de fato a que ela cai no ácido, mas ao invés de ser jogada como nas HQ, ela se joga “porque quer”. Mas o filme já tirou o consentimento dela lá no começo, quando mostra que antes do Coringa sair de Arkham, ele amarra a doutora Quinzel em uma maca e dá choques em sua cabeça.
O filme romantiza a relação dos dois, mostrando uma Arlequina que quer, mais do que tudo, encontrar seu “Puddin”. Não só isso, mas o grande “sonho” dela é se casar e ter filhos com o Coringa. Sem contar todas as cenas que outros personagens encaram o corpo da Arlequina e comentam sua aparência. Isso é um reflexo de como a produção vê a personagem da Arlequina: a “mocinha louca e gostosa”. Argh. O filme tenta forçar uma relação dela com o Pistoleiro, mas além da necessidade de colocá-la no meio de um triângulo amoroso, que já é ruim, eles mal conseguem construir uma relação que funcione entre os dois.
O roteiro realmente quis nos convencer de que aquelas poucas horas juntas foram o suficiente para criar uma conexão entre o Pistoleiro e a Arlequina. Quando ela escapa, Amanda Waller diz que se o Pistoleiro matá-la, ele pode voltar para casa com sua filha. Desde o começo do filme é estabelecido que o que o personagem mais ama é sua filha, o que ele mais quer é poder ficar com ela. Quando a chance aparece, ele resolve não matar a Arlequina porque… O roteiro quer? Sério, não há cenas o suficiente para estabelecer que ele se importa mais com a vida de Arlequina do que com a possibilidade de sair daquela situação. Eu não gostaria que ela morresse, mas seria o óbvio do personagem, a menos que o filme tivesse construído algo convincente o suficiente, que era o certo.
Aliás a relação dos personagens de “família” é quase ridícula. Em algumas horas eles passam a se considerar super amigos, personagens que se odeiam começam a se abraçar, se sacrificam uns pelos outros… Não funciona. O Pistoleiro decide ajudar Flag logo depois que descobre o real motivo do ataque porque sim. É, esse é um resumo do motivo, ao invés dele ir embora depois de perceber que provavelmente não vai morrer, descobrir que foi enganado faz ele ficar. Eu aceitaria se ele dissesse “esse monstro vai matar minha filha, vamos fazer algo”, mas não é isso que acontece. E eu ainda tô tentando entender por que o maior sonho dele é matar o Batman.
O fato de eu ainda pensar em muitos exemplos de falhas no filme mostra como a DC errou. Esquadrão Suicida não funciona, as falhas são muitas, o filme pode até chamar atenção na primeira parte, mas as resoluções e os buracos não sustentam a história.
Pera! A DC falhou até em mostrar a origem do Pistoleiro (onde mostra a origem da rivalidade entre ele e o Batman)? Nas HQs, ele começa querendo ser um vigilante como Batman, mas matando os bandidos. Quando o Batman o trata como um vilão qualquer, ele taca o foda-se e se torna um super-vilão. Só recentemente, acho que nos Novos 52 ou mesmo durante o Sexteto Secreto, que ele se tornou um anti-herói. Ah, lembrei que li uma pessoa dizendo que a raiva dele com o Batman foi pelo dele ter sido pego pelo o mesmo na frente da filha dele.
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Parece que até o roteiro é suicida também por tudo que foi dito. Muito boas observações suas.
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