Estranhos foi lançada em março de 2016, após ser financiada coletivamente no Catarse. A história do quadrinho de Fefê Torquato é contada do ponto de vista de um narrador que observa moradores de um prédio. Não sabemos quem é esse personagem, mas podemos acompanhar enquanto ele vai inventando histórias para pessoas que ele vê pela janela.
O quadrinho é dividido em partes, cada uma delas mostra um dos apartamentos. Acompanhamos aqueles moradores com a mesma curiosidade do narrador, enquanto ele nos apresenta o que acredita ser real, podemos tirar nossas próprias conclusões a partir do que vemos. Temos pessoas de todos os tipos, desde o ator frustrado até a família aparentemente perfeita.
Uma das coisas mais interessantes é como o leitor se relaciona com o narrador. Afinal, não estão os dois acompanhando a vida de pessoas que não conhecem? Óbvio que para o leitor, são personagens de uma história, mas tanto quem lê como o narrador não sabem o que realmente acontece com aqueles moradores, só podemos adivinhar e observar sem sermos convidados.
Morei em prédios boa parte da minha vida, já tive essa sensação de olhar para janela e imaginar o que acontece dentro de outro apartamento. Às vezes pode ser até no mesmo prédio, alguém que você vê no elevador ou uma briga que escuta do andar de cima. Pessoas são curiosas e não é incomum imaginarmos o que está acontecendo na vida do outro. Lendo Estranhos, também imaginei que conclusão as pessoas tirariam se vissem a minha rotina pela janela.

Autografado 😀
Cada história nos faz refletir um pouco sobre certas coisas, é provável que os leitores se identifiquem mais com alguns moradores do que outros, mas todos os personagens podem trazer algum tipo de reflexão. Ajuda muito o fato deles serem tão diferentes, a maior semelhança mesmo que encontramos é que todos seguem uma rotina e moram no mesmo prédio.
O personagem do narrador também é interessante. Comentei como é normal imaginarmos o que acontece com o vizinho, mas esse narrador realmente gasta um bom tempo do seu dia olhando o que acontece com os outros. Fiquei me perguntando quem seria esse personagem. Como tem tanto tempo para ficar olhando pela janela? Por que faz isso todos os dias? Será que mora sozinho? Trabalha com o que? Mas acho que foi uma escolha boa o quadrinho não nos revelar nada sobre esse personagem além de seus pensamentos sobre os outros, o que pode dizer muita coisa.
Gostei muito também dos traços geométricos e da arte de Fefê Torquato, encaixou bem com o ambiente urbano em que o quadrinho se passa. A escolha dos desenhos estarem apenas em branco, preto e cinza também chama a atenção. As cores precisam ser muito bem pensadas para combinar com a história que está sendo contada. Um dos temas do quadrinho é a rotina com um tom melancólico, fazendo a escolha das cores encaixar bastante com a mensagem do texto.
A edição é muito bonita e a história deixa o leitor curioso para ler mais. Já tinha ficado contente quando descobri que o projeto tinha conseguido o financiamento necessário no Catarse, fiquei ainda mais feliz ao ver o resultado final. Recomendo a leitura, acredito que é um quadrinho bem legal e faz o leitor pensar em certos assuntos.
Estranhos tem 122 páginas e pode ser adquirido aqui.