A nova série da HBO estreou dia 2 de outubro. Com apenas dois episódios já lançados, a nova aposta do canal já está rendendo muitos comentários. Westworld é uma série de ficção científica, baseada em um filme de mesmo nome de 1973, criada por Jonathan Nolan e Lisa Joy.
Westworld é um parque temático que simula a época do Velho Oeste. Lá existem androides, chamados “anfitriões”, que são como se fossem atores para deixar o parque mais realista. A diferença é que os androides são programados para realmente viver aquela realidade e nem tem ideia da sua real condição. Esses anfitriões recebem os “recém-chegados”, que são as pessoas que tem dinheiro para frequentar o parque. Lá dentro, os visitantes podem fazer o que quiserem, como realizar as missões que os personagens dão ou até mesmo matar os androides.
Um resumo bem rápido da série para mim seria: Parece Game of Thrones com androides no Velho Oeste versão ficção científica, para o bem e para o mal. Talvez eu comente alguns spoilers leves, mas nada que atrapalhe quem ainda não viu a série.
A história em si não tem nada de parecido com Game of Thrones, mas a mão da HBO é bem evidente em ambas a séries. Tecnicamente, Westworld não deixa a desejar, o telespectador consegue sempre identificar imediatamente quando está dentro ou fora do parque. Isso não fica só pelos cenários óbvios, mas pelas cores e estéticas utilizadas. Por mais que a junção Sci-Fi e Velho Oeste possa afastar algumas pessoas, a série consegue pesar bem o tempo de cada ambiente.
No primeiro episódio há uma repetição na vida de Dolores (Evan Rachel Wood), uma das androides, que representa de forma legal como aquela realidade se repete indefinidamente. No segundo episódio isso volta, com menos força e talvez nem tão necessário, mas fica bom no contexto geral mesmo assim. Outra coisa que chama a atenção é como os idealizadores do parque parecem uma equipe de roteiristas de games, planejando cada arco ou episódio do parque, as missões, o que faz cada personagem realizar cada coisa, etc.
Por mais que tenhamos só o roteiro de dois episódios, dá para ver que tem muita história e coisas interessantes para acontecer. Essas duas horas de série já estão dando algum material para os fãs começarem a adivinhar o que pode acontecer. A questão da opressão que os androides sofrem por parte dos humanos é um tema bem forte, mas também temos algumas discussões políticas que acontecem fora do parque e o fato de certos androides não estarem funcionando tão bem quanto deveriam.
O elenco é muito bom, até os momentos com mais exposição funcionam por causa das atuações. Com dois episódios, Westworld dá o suficiente sobre sua história e seus personagens para que o público queira ver mais. Mesmo os personagens mais enigmáticos, como Ford (Anthony Hopkins), já mostraram um pouco de como são através de suas ações. Todos os núcleos são importantes e parece que eles vão todos se conectar de alguma forma com o andar da história.
Uma das coisas mais interessantes da ficção científica é tratar de assuntos considerados “cinzas”, que não dá para entender bem o que é certo e errado, porque esses espaços normalmente não são bem definidos. O gênero gosta de falar sobre seres humanos de alguma forma, mesmo quando temos alienígenas. Westworld segue essa linha ao mostrar aos poucos as diferenças entre humanos e androides.
Esse aspecto de grandiosidade, boas atuações e histórias que se conectam é uma das coisas que me lembrou Game of Thrones, mas eu falei que a relação também era para o mal. Westworld tem aquele tom de violência desnecessária, principalmente com minorias. Parece que é uma tendência da HBO.
A série faz muita questão de mostrar como aqueles androides sofrem. Tudo bem, eu entendi isso na primeira e na segunda cena de agressão, não precisava de vários outros momentos gráficos, ainda mais quando os alvos são tão específicos. Uma das primeiras cenas é uma em que um dos visitantes vai estuprar Dolores, aparentemente ele já fez isso algumas vezes. Cadê a galerinha do Game of Thrones “naquela época era assim” para justificar essa nova da HBO? E antes que você pense em falar “Velho Oeste”, lembra que as pessoas que estão cometendo esses atos fazem parte de uma época mais no futuro do que a nossa.
Eu entendo que um dos temas fortes da história é mostrar que os androides sofrem, imagino também que a série vai discutir como os seres humanos podem ser violentos, entre outras coisas. Mas precisa ir em um assunto tão gatilho para falar disso? E se realmente precisa, custa um pouco mais de cuidado? Mais criatividade para falar desse assunto? Muitas das violências acontecem com androides mulheres e índios. Ah sim, também tem um raio de uma cena no primeiro episódio com um beijo fetichizado entre duas mulheres e aquela cena não diz nada que o resto da série não faça de outras formas. Todos os androides aparecem pelados quando estão fora do parque, mas adivinha que tipo de androide mais apareceu pelado nesses dois primeiros episódios? Sim, as mulheres. Sem contar que a maioria dos visitantes do parque são brancos. Dá para dizer que os principais de cada núcleo são minorias de alguma forma, Dolores é uma mulher androide e Bernard (Jeffrey Wright) é um homem negro, mas se comparamos com o resto da série, a diversidade não é das melhores.
Não acho que seja um problema Westworld querer falar de violência contra minorias e exploração sexual, mas me parece um pouco tiro no pé falar desses assuntos ao mesmo tempo em que usa recursos que não necessariamente conversam com a mensagem que a história aparentemente quer passar. É óbvio que Westworld está no começo e isso pode melhorar, mas por enquanto é assim que a coisa anda. Por mais que eu tenha gostado muito e vou continuar assistindo, com o histórico da HBO, acho que esse aspecto pode ficar ainda pior.
A série tem acertos e defeitos, é um assunto interessante com vários pontos positivos que estão fazendo sucesso e acredito que vale a pena dar uma chance. Mas, assim como faço com Game of Thrones, recomendo para as pessoas dizendo os pontos negativos que podem encontrar, porque pode sim ser gatilho para alguém. A série tem muito para mostrar, muitas pistas que estão dando e aparentemente vai ter uma história bem interessante, mas há pontos em que ela pode melhorar sua abordagem.
Como já falei, essas são minhas primeiras impressões da série, continuarei assistindo para ver o que vai ter no final.