Rainha de Katwe | Crítica

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Rainha de Katwe estreia nos cinemas brasileiros dia 24 de novembro. Dirigido por Mira Nair e produzido pela Disney e a ESPN, o filme é inspirado no livro Rainha de Katwe – A Emocionante História da Garota que Conquistou o Mundo do Xadrez. Escrito por Tim Crothers, o livro conta a história real de Phiona Mutesi, uma jovem de Uganda que vira uma mestre no xadrez.

O filme começa apresentando ao público a vida de Phiona (Madina Nalwanga). Ela mora com sua família em Katwe, uma região pobre de Kampala, a capital de Uganda. Junto com sua mãe, Nakku Harriet (Lupita Nyong’o), e seus irmãos, Phiona enfrenta muitas dificuldades desde cedo. As coisas começam a mudar em sua vida quando ela conhece Robert Katende (David Oyelowo). Ele ensina crianças a jogarem xadrez e logo Phiona percebe que gosta muito daquele jogo.

Com um elenco tão bom e esse tipo de história, Rainha de Katwe prometia antes mesmo de ser lançado. Fui assistir com boas expectativas que foram correspondidas. É um enredo que vai te conquistando aos poucos, personagens que vão criando empatia no público com cada nova cena. Mira Nair consegue contar uma história que inspira e emociona, é um dos filmes que mais gostei de assistir esse ano.

Queen of Katwe

Mira Nair dirige o filme com calma, em alguns momentos até demais. Um dos defeitos de Rainha de Katwe é que, às vezes, o passo fica mais lento do que devia e talvez algumas cenas pudessem ter sido deixadas de lado. Por outro lado, a trajetória de Phiona é muito interessante, nós queremos saber não só o que vai acontecer com a protagonista, mas também o que Robert vai escolher para a vida dele ou como as pessoas vão reagir com a repercussão do talento de Phiona.

O enredo sabe variar entre os momentos tensos e os engraçados. É inevitável não ficar agitado na cadeira enquanto Phiona começa a enfrentar seus primeiros campeonatos. Queremos que ela ganhe tanto quando Robert, torcemos para que ela mostre que não é menor que nenhum dos outros competidores. Depois de toda essa tensão, o filme nos entrega momentos tranquilos em que podemos relaxar e até rir.

Os personagens sustentam o filme quando o roteiro desacelera demais. Desde o começo vamos conhecendo aquelas pessoas e nos importando com elas. Phiona é o centro das atenções, ela brilha mais do que ninguém e Madina Nalwanga dá um show, mas ela não faz isso sozinha. David Oyelowo e Lupita Nyong’o são atores incríveis e mostram todo o seu talento em Rainha de Katwe, com personagens bem diferentes, mas que cumprem seus papéis dentro da história.

Infelizmente, não estamos acostumados a assistirmos filmes com um elenco composto majoritariamente por atores negros. Os poucos brancos aparecem durante as competições e mal possuem falas. Muitos dos filmes que colocam atores negros acabam reproduzindo estereótipos ou dando a ideia do “salvador branco”. Rainha de Katwe não tem nada disso, não há nenhum branco que vai salvar o dia e os personagens não são reduzidos à estereótipos. São pessoas complexas, com arcos de personagens bem desenvolvidos e que o filme sabe explorar.

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As mensagens que o longa passa são muito inspiradoras. Não é uma fórmula nova, mas é bem feita. Phiona era muito boa, mas ela precisa sim encontrar dificuldades e cair antes de chegar no ponto alto de sua história. Toda a jornada da protagonista conversa muito com vários aspectos do próprio jogo de xadrez. Não é só a questão de ser a paixão dela ou de Phiona ter um dom com o jogo. Ela consegue prever jogadas no mesmo nível de um mestre, mas o xadrez pode ser interpretado de várias formas. É um jogo de estratégia, cada peça tem sua própria importância para a vitória. Xadrez não possui partidas rápidas em geral, é preciso sentar e ir estruturando cada uma de suas jogadas até conseguir vencer.

Phiona passou anos treinando e se especializando. Ela precisa criar estratégias em sua vida, não só para o xadrez em si, mas para enfrentar os problemas em que ela passa no dia a dia. Assim como no tabuleiro de xadrez, cada personagem no filme é como uma peça, cada um tem seu papel para a vida de Phiona, que a faz caminhar pelo tabuleiro todo. Outra metáfora que aparece, inclusive bem explícita no filme, é sobre o peão e a rainha. Apesar de ser uma jogada bem difícil, se um jogador consegue levar seu peão até o outro lado do tabuleiro, ele pode trocar a peça por uma rainha. Phiona era o peão, uma menina que muita gente desacreditou, que veio de uma origem muito mais humilde do que os mestres europeus ou canadenses. Porém, andando uma casa de cada vez, ela virou rainha de Katwe.

Recomento bastante o filme, apesar de alguns momentos monótonos e de  que poderia ser mais curto, Rainha de Katwe é uma história linda, inspiradora e muito bem feita. Além de ser um filme de produtoras grandes que mostra que sim, é possível fazer filmes com um elenco em que a maioria dos atores são negros e sem virarem estereótipos. Meninas negras também podem ser as protagonistas. Espero que Rainha de Katwe tenha bastante visibilidade e que seu modelo influencie outras produções no futuro. Ah sim! Fique para ver os créditos.

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