3º Episódio: Head Full of Snow | Deuses Americanos

head full of snow

Saiu o terceiro episódio de Deuses Americanos: Head Full of Snow e, como o nome indica, teve bastante neve, mas também várias outras coisas.

Mantendo o formato que foi apresentado desde o começo, Head Full of Snow deixa um pouco de lado cenas tensas para criar um clima quase que de conto de fadas. Ainda tem sangue e conflitos, mas o aspecto mágico da série está aumentando cada vez mais, ficando ainda mais evidente nesse terceiro episódio.

Deuses Americanos continua acertando nos pontos de sempre: o visual, as atuações, os diálogos, etc. Mas ela também continua deixando o público um tanto quanto confuso, não só pelo fato de continuarmos sem muitas explicações, mas sim pelas escolhas de Shadow. Como sempre, essa crítica terá spoilers.

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Dessa vez, o conto que temos no começo do episódio é uma cena de Anubis, o deus egípcio dos mortos, levando uma mulher que acabou de falecer para o outro lado.  A arte toda desse episódio é incrível e tudo começa nessa cena. Anubis conversa um pouco com a mulher e testa o peso do coração dela. Ela já começa a se desculpar sem nem saber o resultado, mas aparentemente o melhor dela é bom o suficiente. Ela é mandada por uma das portas para… Algum lugar que não sabemos.

Em outro ponto do país, Shadow vai até o telhado da casa das Zorya e encontra ali a irmã da madrugada, Zorya Polunochnaya, que está olhando as estrelas. Ela explica um pouco da função das irmãs ali e toda essa cena que começa a dar um ar de conto de fadas para o episódio. Depois de uma conversa filosófica sobre acreditar nas coisas, Zorya pede um beijo de Shadow e eu só consegui pensar “Mas por que?”. Eu ainda não consegui entender a necessidade de fazer essa personagem que, segundo ela, nunca foi beijada, querer logo tentar com o protagonista. Sem contar que, com esse episódio, Deuses Americanos volta a colocar todas as suas personagens mulheres ligadas a “interesse” de alguma forma, por mais que Zorya tenha achado o beijo nojento. Sim, eu sei que ela é importante para dar a moeda nova para Shadow, que é uma grande ajuda, mas né.

O fato de ser um sonho não faz escapar esse aspecto ruim do episódio, mas pode sim nos fazer acreditar que Shadow aceitou aquela conversa toda confusa no telhado. O problema é que o comportamento de Shadow não parece fazer muito sentido. Falei nas outras críticas que o protagonista do livro é muito mais passivo, que esse Shadow da série tem emoções e não aceita tudo, mas ele ainda aceita demais.

Isso me faz questionar algumas coisas na narrativa da série. Eu sei que parte de eu estar gostando é porque já li o livro, eu já gosto dessa história, entendo os pontos que ainda não foram explicados na série, mas a adaptação não é só para mim, é para aqueles que não tem ideia do que está acontecendo. Eu acredito que o problema narrativo de Deuses Americanos nem seja tanto não explicar o que raios está acontecendo de primeira. Wednesday não está interessado em explicar, e faz sentido que ele não explique, a série já nos mostrou que ele vai guardar seus segredos até o momento que ele quiser. Isso eu consigo entender e até aproveitar entrar nesse mundo que não faz muito sentido. O que é difícil de acreditar em certos momentos é Shadow aceitar tudo isso.

American Gods Season 1 2017

Eu entendo que Shadow pegue o emprego: ele está abalado com a morte da esposa e ele é um ex-presidiário negro nos Estados Unidos. Isso tudo bem, o que eu acho estranho é Shadow topar apostar a própria cabeça e continuar com Wednesday. Um emprego vale mais que a vida dele? A maioria dos personagens estaria fugindo agora. Eu gosto do Shadow da série mais que o do livro e eu esperava que já tivéssemos uma compreensão maior das escolhas dele a essa altura.

Com sua nova moeda, Shadow desafia Czernobog para outra partida. Tudo dá a entender que Shadow não acredita realmente que a moeda da lua vai fazer alguma diferença, talvez só no final desse episódio Shadow passe a acreditar em magia mesmo, mas mesmo assim ele tenta recuperar sua “vida”. Shadow vence dessa vez e consegue adiar sua morte, o que parece deixá-lo satisfeito. Ou ele realmente acredita que Czernobog é louco e está brincando (o que acho improvável), ou Shadow não está ligando se vai morrer ou não. É difícil de acreditar que alguém está completamente “de boa” com o fato que vai morrer em breve.

Há um momento que quero destacar aqui: Durante a conversa de Wednesday e Zorya Vechernyaya, ele pede para que ela leia o seu futuro no chá, Zorya diz que Wednesday não vai conseguir o que quer e ele responde que aquela é sorte daquele dia. Será que isso foi um jeito da série dizer que quem faz o nosso destino somos nós? Que tudo depende de uma série de coisas ao nosso redor? Ou só que Zorya não sabe ler o futuro?

E aí chegamos na cena que todo mundo ficou falando depois de ver o episódio. Salim é um muçulmano que se mudou a pouco tempo para os Estados Unidos. Ele pega um táxi e o motorista é um Jinn, que nós também chamamos de Gênio. Os Jinn são entidades sobrenaturais na religião muçulmana e, como o próprio diz, não realizam desejos. Os dois se sentem de fora em um país que não os aceita, tanto Salim por uma questão de preconceito, como o Jinn por não acreditarem nele. Quando percebem essa semelhança, uma conexão é formada. Não me parece forçado o afeto que Salim tem por Jinn porque ele mesmo explica a história de sua avó já ter visto um Jinn antes.

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Já tinha lido que Deuses Americanos teria uma cena de sexo entre dois homens explícita, mas não estava esperando por essa cena. Muitas séries mostram cenas de sexo sem esconder muito, desde Sense8 até Game of Thrones, mas fiquei com a nudez desse episódio. É uma cena com nu frontal de homens e que dura alguns bons minutos.

Vamos falar com todas as letras: Nós raramente vemos pênis na televisão. O audiovisual não tem problema em abusar de seios, bundas e vaginas, mas pênis, mesmo nas obras mais “chocantes”, como Game of Thrones, acabam sendo um tabu. Eu pessoalmente não acho que cenas de sexo precisam ser explícitas, mas não acho que seja necessariamente um problema. É ruim quando isso é usado para hipersexualizar e diminuir algum personagem. Já que estamos numa cultura que ama expor os corpos considerados femininos em todo lugar (a menos que a dona do corpo queira mostrar, aí não pode), acaba causando impacto quando vemos isso com dois homens, ainda mais considerando toda a homofobia que tem por aí. As relações entre homens e mulheres são naturalizadas, o que foge disso é feito como fetiche ou raramente aparece.

A cena não os coloca como objetos, nem como fetiche ou como algo errado. Quem vê a esse momento sem acompanhar a série pode acreditar que os dois estavam apaixonados. A cena é construída de forma que mostra esses dois homens, que se sentem isolados e esquecidos, encontrando conforto um no outro. Mesmo quando o Jinn assume a forma de Salim no final, não parece uma punição ou algo ruim. Se fosse Game of Thrones, por exemplo, que já teve cenas entre dois homens, a coisa provavelmente seria diferente.

Voltando para Shadow, ele e Wednesday vão roubar um banco. Por mais que Shadow reclame e diga como aquilo pode ser perigoso, ele concorda e aí eu volto a não entender. Novamente, eu até entendo ele ter aceitado o emprego, o que não desce é ele se colocando em situações que não valem um emprego.

Mais tarde os dois têm outra conversa sobre fé, a princípio achei que eles iam martelar na mesma tecla, mas isso é o começo de uma mudança para Shadow. Depois de toda uma conversa sobre “tipos de Jesus”, Wednesday pede para Shadow que pense em neve e algum tempo depois começa a nevar. Essa sequência toda é bem divertida e bonita de ver. Shadow percebe que talvez haja sim uma relação entre ele ter pensado em neve e o fato ter nevado em um dia que supostamente não deveria

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Isso faz conexão com a conversa que ele teve com Zorya no começo do episódio. Shadow diz que acredita em amor porque soube o que era amar, então será que agora, que viu neve surgir porque ele pensou, vai passar a acreditar nas coisas que estão acontecendo ao redor dele? Eu realmente espero que, a partir desse ponto, a construção das decisões dele façam mais sentido do que o que tem acontecido até agora.

Entre todas essas coisas, vemos que Mad Sweeney está sem sorte depois de ter entregado a moeda para Shadow. Ele também está indo para Wisconsin, mas não está nada feliz. Mais tarde, vemos ele cavando o túmulo de Laura atrás da moeda. E aí chega a cena que eu estava esperando desde o primeiro episódio (e achei que ia acontecer antes, mas tudo bem): Laura aparece para Shadow!

Eu quero muito, mas muito, que a personagem de Laura seja bem trabalhada. Eu quero isso para todas as mulheres da série, mas especialmente Laura e Bilquis, que não apareceu nesse episódio infelizmente. Ando lendo, de algumas pessoas que viram os quatro primeiros episódios, que o quarto é o melhor de todos, então estou empolgada.

Apesar de não andar muito com a história principal, e talvez o episódio menos tenso até agora, Head Full of Snow apresenta alguns elementos interessantes, tanto para o universo de Deuses Americanos em geral, como para o desenvolvimento de Shadow. Eu ainda quero ver uma representação feminina que me deixe feliz, talvez a volta de Laura no quarto episódio seja isso, mas por enquanto ainda fico esperando. Também queria muito que a série desse mais sentido para as decisões de Shadow, eles poderiam aproveitar esse momento depois da neve para trabalhar melhor isso.

PS.: Nada a ver com nada, mas eu adoro que a magia em Deuses Americanos funciona de um jeito que me lembra um pouco com o sistema de magos do RPG O Mundo das Trevas.

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