Mulher-Maravilha | Crítica

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Não é novidade para ninguém que o universo cinematográfico da DC não está no seu melhor momento. Desde que essa nova fase começou, muito do público e dos críticos reclamaram de como as coisas estavam sendo construídas. Particularmente acho BvS e Esquadrão Suicida dois filmes fracos e nada me chama muito a atenção em Homem de Aço.

E aí chega Mulher-Maravilha, finalmente um filme de herói protagonizado por uma mulher. Nós já vimos inúmeras versões do Batman e do Superman, é ridículo que Mulher-Maravilha tenha demorado tanto, afinal ela também faz parte da tríade, ela é um dos personagens mais populares da DC. Mesmo que você não saiba nada de quadrinhos de heróis, você já ouviu falar de Superman, Mulher-Maravilha e Batman.

Junto com isso, vem toda uma responsabilidade, que não deveria existir, mas está aí. A primeira é de tentar salvar um universo cinematográfico completamente falho que, numa tentativa de competir com a Marvel, que está aí a anos construindo personagens no cinema, tenta chegar no ônibus atrasado e sentar na janelinha. A segunda é que, por ser um filme com uma protagonista mulher, tem uma responsabilidade extra de ser bom. Veja bem, é óbvio que todos nós esperamos que todos os filmes sejam bons, mas quando falamos dessa parte do “cinema nerd”, os parâmetros são diferentes. Se um filme com um homem protagonista é ruim, tudo bem, parte dos fãs vão defender até o fim dos dias e a outra parte vai superar. Ninguém fala que isso é porque o protagonista é homem, porque o diretor é homem, ninguém considera não fazer mais filmes com homens protagonistas.

Mas com as mulheres protagonistas é diferente. Por mais que nos últimos anos tenhamos visto vários filmes com protagonistas mulheres fazendo sucesso, ainda há um receio com as heroínas. O filme da Mulher-Maravilha não podia ser só bom, ele tinha que ser ótimo, arrecadar muito dinheiro, coisas que não seriam exigidas de outros filmes. Ninguém cogitou parar de fazer filmes com homens protagonistas quando BvS teve todas aquelas notas ruins.

Então sim, é ótimo ver o filme com 94% no Rotten Tomatoes. Eu nem sou a pessoa que fica medindo tanto essas porcentagens lá, mas num âmbito geral isso é importante. Quando as pessoas olham Mulher-Maravilha ao lado de O Cavaleiro das Trevas, um dos filmes de heróis mais amados de todos, com um dos maiores símbolos do nerd “machão” como protagonista, as pessoas prestam atenção. Mesmo sem o número de propagandas que BvS teve, Mulher-Maravilha fez mais que o esperado na bilheteria.

Fica tranquilo que a crítica não tem spoilers!

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De qualquer forma, vamos falar do filme, né? Diana vive em Temiscira, uma ilha povoada por amazonas, que está escondida do mundo dos homens. Quando Steve Trevor chega na ilha, Diana o salva e as amazonas ficam sabendo da Primeira Guerra Mundial. Diana entende que só pode ser Ares afetando o julgamento dos homens e decide sair da ilha com Steve para dar um fim nisso.

Diana chega com tudo nesse filme. A construção dela é o que queremos de um herói. Ela é forte e não tem medo de se jogar em um problema pelo que acha certo. Ela vai em frente, mesmo que todos, tanto amazonas como homens soldados, digam para ela parar. Mas Diana não é só um estereótipo da “mulher forte”, ela tem várias camadas em sua personagem. Gal Gadot faz um excelente trabalho em colocar as emoções necessárias nas horas certas para passar empatia ao público.

Acima de tudo, Mulher-Maravilha tem algo que às vezes falta nos filmes de heróis e que com certeza falta nos mais atuais da DC: Uma história que não tem medo de mostrar um protagonista com emoções. Quando Guardiões da Galáxia Vol. 2 estreou, algumas pessoas reclamaram que o filme tinha “muita emoção”, como se fosse algo ruim. Isso provavelmente vem de uma sociedade que ensina que não ser emocional é um tipo de sinônimo de força, esquecendo que são esses fatores que fazem um personagem ser mais humano, portanto há mais chances que nos identifiquemos com ele.

Eu entendo a reclamação de “essas emoções aparecem justo com a personagem feminina da DC”, não é uma crítica completamente sem sentido. Não vou mentir, me cansa um pouco ver a personagem mulher sempre associada com emoções e o personagem homem não, mas eu ficaria mais feliz vendo o lado emocional em todos os heróis do que tirar isso deles. No terceiro ato, certos aspectos do filme ficam bregas, alguns pontos diferentes teriam mudado essa impressão que eu tive do filme, mas não chega a atrapalhar. Por mais que algumas decisões no final borrem um pouco partes das mensagens do filme, Patty Jenkins consegue entregar a reflexão sobre a guerra e a humanidade que ela propõe.

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O roteiro é bem construído na maioria das vezes. Sim, tem um ou outro furo, alguns momentos são convenientes demais, mas nada disso atrapalha o andar da história. Digo mais: nenhuma dessas falhas é tão grande ou evidente como as falhas de roteiros de vários outros filmes com protagonistas masculinos, mas por algum motivo, elas viram um grande motivo de preocupação para muitos quando a protagonista é mulher. Filmes de heróis estão cheios de momentos “impossíveis” desde o começo dos tempos, e tudo bem, o problema é quando o universo do filme é fraco o suficiente para me fazer achar que o que está acontecendo não é convincente, que definitivamente não é o caso de Mulher-Maravilha. Os acontecimentos são construídos de forma coerente e te prende até o final. Quando eu percebi que estava no terceiro ato, tomei um susto com a fluidez do filme.

Patty Jenkins mandou muito bem, inclusive sendo a diretora mulher com a maior bilheteria na estreia. Ela sabe a personagem com a qual está lidando, sabe muito bem os erros em que pode cair e dá uma dinâmica muito boa ao filme. Como eu falei, poucas vezes o filme tem algum problema de construção e nenhum deles é muito grande.

As cenas de ação são incríveis, quando saí do cinema eu queria ser uma amazona. A Mulher-Maravilha de fato chegou chutam bundas, assim como todas as outras amazonas de Temiscira. Elas têm presenças marcantes, mesmo que estejam usando flechas contra armas de fogo no primeiro ato do filme. Eu até acho que há um exagero na câmera lenta, mas entendo a linguagem de evidenciar os poderes de Diana. O filme consegue balancear bem o sombrio e as piadas, sem perder aspectos característicos do universo cinematográfico da DC.

Steve Trevor em momento nenhum rouba o protagonismo de Mulher-Maravilha. Eu entendo os momentos em que as pessoas acusariam o personagem de homenxplicação, mas não acho que seja bem isso. Diana não conhece o mundo dos homens, de fato há coisas ali que ele sabe melhor que ela, mas quando é a hora da Mulher-Maravilha brilhar, ela brilha. A relação entre Diana e Steve é muito bem feita e importante para a história, mas não de uma forma que diminua a protagonista.

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Eu gostaria de ter visto mais Temiscira e das outras amazonas, essa parte acaba faltando. Também queria que houvesse mais diversidade entre os personagens. Há sim amazonas negras, mas as que mais se destacam ainda são brancas. Mesmo que Diana e Steve tenham arcos de personagens bem feitos e a relação entre eles seja boa, os personagens ao redor deles acabam ficando um pouco ofuscados. Os vilões não são tão marcantes quanto gostaríamos, mas ele chegam com uma mensagem muito interessante para o filme.

Mulher-Maravilha nos diz que a guerra e os conflitos políticos não possuem um grande vilão, um cara do mal que, quando derrotado, trará a paz para tudo. Porque é assim que a vida é. Já escrevi aqui no blog sobre como, às vezes, as pessoas usam a visão de bem vs mal dos heróis para encarar a política, e isso é uma forma bem errada e inocente de visualizar as coisas. Mulher-Maravilha questiona exatamente isso, falando da responsabilidade que nós temos diante de certas coisas. Eu até acho que a batalha final deixa essa questão um pouco mais fraca, mas não completamente. Patty Jenkins consegue entregar uma luta final que esperamos de filmes de heróis ao mesmo tempo em que fala que a guerra não possui apenas um vilão. A conclusão que vimos talvez não fosse minha primeira opção, mas funciona.

Há ainda outros detalhes no filme que poderiam ser diferentes. Eu ainda acho as boobplates desnecessárias, além de certos momentos poderem ser um pouco mais impactantes do que eles foram. Há sim pontos negativos, todo filme tem, mas Mulher-Maravilha funciona mesmo com essas coisas. O filme conseguiu fazer algo que nenhum dos longas dessa nova fase da DC tinha feito até agora: uma protagonista convincente e cativante, com uma história bem construída e que realmente dá esperança para o resto do universo da DC no cinema. Eu ainda não confio em Liga da Justiça, mas talvez seja melhor do que eu esperava, isso porque estou vendo que a DC pode sim fazer se quiser.

É muito satisfatório ver um filme com uma protagonista e uma diretora fazendo todo esse sucesso. Já tem muito homem sendo babaca nas redes sociais por causa disso, mas acho que a Patty Jenkins não consegue ouvir no meio de tantos elogios merecidos que o filme levou. Importante lembrar aqui que ninguém precisa gostar do filme, só precisa tomar cuidado para não disfarçar o machismo como opinião. Mulher-Maravilha chega acertando muito e com poucos erros, quebrando a cara de muita gente e, quem sabe, abrindo portas para filmes assim com diretoras liderando. Que o universo cinematográfico da DC a partir de agora seja mais Mulher-Maravilha e menos (ou nada) Batman v Superman.

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