Por que não gostei do final de Penny Dreadful

vanessa

Aviso de spoilers da terceira temporada de Penny Dreadful.

Há um tempo atrás recebemos a notícia de que a terceira temporada de Penny Dreadful também seria a última. De acordo com os criadores da série, eles planejavam que a série terminasse nesse ponto e não fosse muito longa.

Normalmente eu faria uma crítica da temporada em geral, mas confesso que essa foi tão fraca em vários pontos que muitas coisas são até difíceis de lembrar. Em parte eu imaginei que isso tivesse acontecido pela série ser cancelada do nada, o que não daria tempo de terminar todos os arcos como os criadores gostariam. Até eu descobrir que aparentemente esse era o plano deles, deixando tudo confuso para quem assistia.

Em geral até o quarto episódio as coisas corriam bem, havia alguns elementos reciclados de outras temporadas, mas a volta do Drácula e uma possível segunda chance para os vampiros me deixou empolgada. Depois do episódio do flashback de Vanessa no manicômio, as coisas parecem simplesmente acontecer só para chocar o público. Boa parte dos personagens tiveram arcos que não pareciam acrescentar em nada, terminando em um ponto similar ao qual eles tinham começado.

Eu entenderia melhor esses arcos mal acabados se a série tivesse sido planejada para ter mais temporadas, mas do jeito que ficou não faz muito sentido. Algumas histórias até fecham de certa forma, como a de Dorian, mas ao mesmo tempo personagens novos ficam perdidos no meio da trama, como Dr. Jekyll e Catriona. Ambos pareciam que podiam ter acrescentado muito se tivessem sido melhores explorados. Também teve o caso de Lilly, Victor e Ethan, que passam por coisas que parecem não acrescentar nada para o personagem ou para a história. Ethan abraça seu lado das trevas, mas para que? Victor passa a temporada toda tentando capturar Lilly só para desistir do plano sem muita explicação. Lilly tenta criar um grupo para ajudar mulheres para no final não dar em nada.

No meio de tudo isso, a série termina matando sua personagem principal. Depois de tudo, Vanessa tem um final que vai contra muita coisa que a série nos tinha apresentado e para mim parece injusto com a personagem.

Continuar lendo

Quando mulheres não podem ser humanas

Until Dawn™_20150825222719

O texto contém spoilers de Until Dawn.

Essa reflexão de hoje começou com esse texto que está nos meus favoritos e com alguma frequência abro para ler de novo. Alguns dias depois voltei a pensar no assunto quando assisti Garota Sombria Caminha pela Noite. Certos eventos pessoais e coisas que observei mais a fundo na ficção me fizeram cada vez mais pensar nesse tema, até que hoje resolvi fazer um texto, meio desabafo, sobre isso.

Recentemente, como vocês sabem, zerei Until Dawn, um jogo de terror. Apesar de ter gostado bastante do jogo, um ponto importante da narrativa me incomodou bastante e tem tudo a ver com o assunto em questão.

Em Until Dawn, Hannah é apaixonada por Mike. Ela fazia testes em revistas adolescentes para ver se conseguiria ficar com ele, escreveu sobre ele em seu diário e até fez uma tatuagem pra provar o quão “cool” ela era. Os amigos deles descobriram dessa queda que Hannah tinha por Mike e, como ele tinha uma namorada, Emily, eles resolveram fazer uma brincadeira de mau gosto: Fazer Mike fingir que eles iam ficar juntos para gravarem Hannah tirando a roupa. Independente deles terem intenção de divulgar ou não, isso é exposição.

Resultado: Hannah foge, sua irmã gêmea, Beth, vai atrás, as duas caem de um penhasco e são dadas como desaparecidas. Durante o jogo descobrimos que Beth morreu, mas Hannah sobreviveu e como não conseguiu sair das minas em que caiu, precisou comer o corpo morto da irmã pra sobreviver, o que a transformou em um Wendigo. Eu só conseguia pensar em como não era justa essa história, Hannah era uma moça ingênua, que confiava e amava Mike e por querer ter algo com ele, acabou caindo de um penhasco e se tornando em um monstro.

Continuar lendo

O medo da força das mulheres | Sobre Drácula e os dias de hoje

As histórias de vampiros são um clássico do gênero de terror há séculos. Muito antes de Bram Stoker dar vida ao Drácula, os vampiros já assustavam as pessoas em contos e lendas. Por ser uma figura muito antiga, existem várias lendas diferentes e tipos de vampiros, desde o monstruoso sugador de sangue até o sedutor (e o que brilha).

O Drácula do Bram Stoker foi uma das primeiras histórias de vampiro que eu encontrei e até hoje é uma das minhas grandes referências quando falo sobre o assunto. Porém, como normalmente acontece, quando eu pego uma história que gostava muito antigamente para ver/ler hoje, eu encontro vários aspectos que não tinha percebido antes.

Todo mundo sabe que Drácula é uma história do gênero de terror, independente de você ter medo de vampiros ou não. O grande vilão da história, o próprio conde Drácula, mata pessoas, se transforma em animais, controla a mente das pessoas… Isso tudo é bem assustador e uma boa fórmula para um vilão, mas hoje, com um outro olhar, quando presto atenção nas mensagens que a história passa, percebo que talvez o Drácula não era exatamente a única coisa que o Bram Stoker colocou como “ameaça” no livro.

O jeito que as mulheres são colocadas na história revela padrões que a sociedade esperava que elas seguissem na época que o livro saiu (1897). Quando paramos para analisar como cada uma delas serve a história e o destino que elas tomam, conseguimos ver uma expectativa extremamente machista da sociedade da época sobre o que a “mulher de verdade” deveria ser.

Mina, Lucy e as esposas do Drácula representam tipos de mulheres e cada uma delas recebe o “fim” que a sociedade acha adequado para suas atitudes, o que me faz pensar sobre como, há muito tempo, a mídia e a representação de grupos em geral vem fazendo sua parte em manter certos papéis da sociedade.

Antes de entrar na análise propriamente dita, queria reforçar que, por mais que eu ame Drácula, isso não me impede de fazer análises e problematizar certos aspectos da história. Esse texto não é de forma alguma um tipo de discurso para você banir o Drácula da sua estante, só uma análise para você refletir.

Continuar lendo