Jessica Jones e os relacionamentos abusivos

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Prometi que ia fazer uma análise de Jessica Jones, né? Então vamos lá!

Nesse texto aqui eu fiz uma crítica da série como um todo, mas agora vou me focar na mensagem principal de Jessica Jones, que foi o que fez com que eu me apaixonasse por essa história: A representação de um relacionamento abusivo.

É comum vermos relacionamentos abusivos sendo retratados na mídia de forma romantizada. Cinquenta Tons de Cinza e Crepúsculo são exemplos fáceis de lembrar, mas se paramos para refletir sobre o assunto, veremos que várias outras histórias cometem o mesmo erro de mostrar um casal problemático como se fosse um exemplo a ser seguido.

Canso de falar que a representação é algo muito importante, o que você vê na mídia vai sim influenciar o jeito que você age e percebe o mundo, por isso que os comunicadores possuem uma responsabilidade muito grande. Quando romantizamos um relacionamento abusivo, passamos a mensagem de que esse é um relacionamento comum, que é normal agressão física ou psicológica, porque se você amar seu parceiro de verdade, ele vai mudar, né? Não.

Um dia desses me contaram uma história, não vou citar nomes para preservar a pessoa agredida, mas em resumo: A moça namorava o rapaz, depois de várias agressões resolveu largar dele, o rapaz fez um grande escândalo, falando que não ia mais comer nem trabalhar, enquanto dizia que ela era ingrata, porque tudo que ele fez foi ficar ao lado dela quando ninguém mais ficaria. A moça contou pra mãe do rapaz o que aconteceu e recebeu como resposta “Calma querida, ele vai melhorar, aguenta um pouco, ele errou, mas te ama. Ele vai perder o emprego se vocês terminarem, pensa nisso!”. O pior é que eu não estou inventando.

A cultura dos relacionamentos abusivos é tão enraizadas que até uma mulher diz para a outra que ela “deve aguentar um pouco”. Quando a sociedade normaliza esse comportamento, e sim, a representação faz parte dessa normalização, esse ciclo vai se repetindo e inúmeras mulheres sofrem.

Por isso é extremamente importante, ainda mais no momento atual em que vivemos, uma série como Jessica Jones, que não romantiza o que é problemático, que coloca na cara de todos os telespectadores o quão abusivo Killgrave é com Jessica, o quanto ela sofre com ele e o arco de sua personagem é o empoderamento e a superação de seu problema.

A partir daqui o texto terá spoilers de toda a primeira temporada de Jessica Jones. Lembrando que eu não li os quadrinhos, estou falando puramente do que vi na Netflix.

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O problema do estupro na ficção

Antes de qualquer coisa, como o título já diz, TW de estupro.

Ultimamente tem se falado muito da representação feminina na ficção, o público tem ganhado mais força e exigindo mais e mais das mídias que parem de colocar as mulheres em situações machistas. Com isso, um tópico que foi muito falado foi o estupro que essas personagens sofrem e a representação que é feita do assunto.

Estupro, infelizmente, é algo jogado para baixo do tapete, inclusive a Superinteressante desse mês aborda o assunto na matéria principal falando exatamente como pouquíssimos casos são levados a sério e quase nunca resultam em alguma condenação. Além de tudo, é um crime que acontece com muitas mulheres, entre outros tipos de abusos.

Queria falar sobre o assunto desde a época que estava passando a quinta temporada de Game of Thrones, não só pelo erro da série em si, mas também pela reação de algumas pessoas ao verem certas cenas. Mesmo que seja na ficção, estupro é um assunto muito sério e as representações da mídia afetam muito a vida das pessoas, por isso usar o argumento “é só um filme/série/livro/jogo/etc” é muito raso, ainda mais com um assunto como esse.

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