John Boyega está certo | Representação étnica na fantasia medieval

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Eu sinto que eu já falei desse assunto inúmeras vezes, talvez você, que acompanhe mais meus textos, não aguente mais ouvir falar disso, mas como as pessoas insistem em dizer besteiras, aqui estou eu, mais uma vez, para falar em nome desse gênero que amo tanto.

Esta semana, John Boyega estava participando de uma entrevista para a GQ e falou sobre a falta de diversidade étnica em Game of Thrones. Eu tenho a impressão de que existem certos assuntos no mundo nerd que, se você falar mal, você automaticamente vai summonar um nerd preconceituoso. Game of Thrones seria um deles. John Boyega disse:

Não há pessoas negras em Game of Thrones. Você não vê uma pessoa negra em Senhor dos Anéis. Eu não estou pagando dinheiro para ver só um tipo de pessoa na tela. Você vê pessoas diferentes com várias histórias e culturas todos os dias. Mesmo se você for racista, você precisa lidar com isso.

A internet caiu em cima dessa declaração. Como nós sabemos, o público nerd ainda é muito difícil e preconceituoso, então ofensas de todos os tipos surgiram, além de pessoas tentando argumentar, com pontos bem falhos, que não havia nenhum problema em Game of Thrones só ter pessoas brancas. Vamos parar um pouquinho para ver essas “argumentações”.

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Plumba não é só uma garota que bate em monstros

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Plumba foi o primeiro quadrinho que comprei na CCXP 2016. Anunciaram que iam sair o volume dois e só vi críticas positivas, então resolvi dar uma chance para essa história. Não me decepcionei.

O quadrinho é da 2minds, criado por Thiago Lehmann e Luiza McAllister. Ele acompanha a história de Plumba, uma garota de cabelo rosa que mora com sua família na Casa Rosa, na cidade Boloto. Plumba quer comprar um machado novo, mas não tem dinheiro o suficiente para isso, então resolve começar uma viagem para completar missões e juntar o dinheiro necessário.

Como indica o título da crítica, a história de Plumba é muito mais do que uma garota batendo em monstros. Desde o primeiro momento o leitor já gosta de Plumba, a protagonista é muito carismática, capaz e inteligente. Além dela, outros personagens muito divertidos vão aparecendo, adicionando informações para a história e fazendo com que o leitor conheça mais sobre aquele universo e a própria Plumba.

O primeiro volume serve como uma introdução. Quando terminamos de ler, entendemos como o universo de Plumba funciona, conhecemos a personalidade da protagonista, os básicos para a história e temos uma pista sobre algo maior que está para acontecer. O segundo volume começa a dar forma para alguns conflitos maiores do que a falta de dinheiro para comprar o machado. Descobrimos mais sobre Plumba, sua família e conhecemos outras organizações e personagens importates. Mesmo que o quadrinho tenha a intenção de ser uma história leve e engraçada, o roteiro sabe quando deixar a situação mais tensa quando é necessário.

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Rat Queens | Mulheres na fantasia medieval

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Há algum tempo atrás escrevi esse texto que fala sobre machismo na fantasia medieval. O que acontece é que, como desculpa para não pensar fora da caixa, muitos roteiristas/produtores/diretores/escritores desse gênero acabam reproduzindo machismo em suas histórias. Quando questionados, insistem em falar que “naquela época era assim”, e como falo no outro texto, isso não faz o menor sentido.

Veja bem, a reclamação não é que nenhuma obra de ficção de fantasia medieval não possa falar sobre machismo, a crítica é que as pessoas repensem nas mensagens que querem passar. De qualquer forma, já falei sobre isso, então mais sobre esse assunto no outro texto.

No ano passado ouvi falar de um quadrinho chamado Rat Queens. A história acompanha um grupo mercenário chamado Rat Queens, composto por quatro mulheres que passam por inúmeras aventuras. O quadrinho é de fantasia medieval e até tem uma pegada que lembra RPG: Uma party em que cada uma das quatro personagens tem uma classe específica, juntas elas se completam e compõe um grupo poderoso.

Apesar de ter o quadrinho há alguns meses, só nos últimos dias que realmente sentei para ler tudo e descobri que agora está em hiato (infelizmente). A história é incrível, todas as personagens são complexas, a trama em geral do quadrinho também vai avançando de forma interessante e todos os núcleos são divertidos. Apesar do hiato, é uma história que eu recomendo e já tem em português pela Jambô, inclusive a Rebeca já escreveu sobre isso no Collant.

Mas o que é mais surpreendente e legal de Rat Queens é que essa é uma história de fantasia medieval que não usa nenhuma das “desculpas” clássicas do “naquela época”. Rat Queens mostra que é perfeitamente possível fazer uma história desse gênero sem colocar estereótipos machistas por causa da “fidelidade histórica”.

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Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos

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Pode ler feliz porque essa crítica não tem spoilers.

Antes de começar, gostaria de agradecer ao Women Up Games por ter me chamado para assistir a pré-estreia do filme!

Filmes baseados em jogos são sempre um assunto um pouco complicado. Nós que jogamos sempre brincamos que as adaptações para o cinema nunca ficam boas, mas mesmo assim várias pessoas entraram na hype da adaptação de World of Warcraft. Eu nunca joguei WoW, não conheço muito sobre o universo, mas como amante de cinema e de jogos eu achei que talvez fosse o primeiro encontro decente de dois mundos.

A minha conclusão é que é e não é ao mesmo tempo. World of Warcraft não é um filme ruim, ele diverte, trata de uma temática interessante, chama a atenção e tem seus acertos. Mas infelizmente ele tem falhas que não dá pra colocar o filme como ótimo.

O reino de Azeroth vive em paz já faz algum tempo, mas como estamos falando de uma fantasia medieval, isso vai acabar logo. O mundo dos orcs está sendo destruído e para não morrerem, eles abrem um portal para outro mundo. Os orcs chegam nesse mundo para conquistar e conseguir uma nova casa, destruindo vilas e matando quem entre no caminho, então as raças de Azeroth precisam se juntar para impedir a nova ameaça.

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Machismo na fantasia medieval e o “naquela época…”

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Faz algumas semanas que começou a 6ª temporada de Game of Thrones e, como todo o ano, sempre que criticamos algum erro de representatividade ou preconceito contra mulheres na série, vem aquele argumento para defender:

“Ah, mas naquela época era assim mesmo”

Não é só com Game of Thrones que as pessoas usam esse argumento, qualquer fantasia medieval que tenha algum machismo em sua história é rapidamente justificado pelos fãs. Todos lembramos o quão machista foi a 5ª temporada e enquanto várias pessoas apontavam isso, outras vinham com esse argumento pra defender decisões absurdas dos produtores, então eu não fiquei nada surpresa de, já no primeiro episódio dessa nova temporada, alguém falar a mesma coisa.

De fato é importante que uma história tenha coerência com o seu tempo e espaço para funcionar. É óbvio que na ficção você pode fazer o que bem entender, mas a narrativa precisa se encaixar com o “onde” e “quando” da sua história. Por exemplo, em um filme que fala sobre a Joana D’Arc, seria esquisito colocar os personagens usando gírias e palavras dos tempos atuais.

O que as pessoas às vezes esquecem é que histórias como Game of Thrones e muitas outras ficções que os nerds amam não são relatos históricos, como um filme de Joana D’Arc, mas sim fantasia. O nome do gênero é fantasia medieval, portanto sim, vamos ter cavaleiros e lutas que vão remeter à nossa época medieval, mas é também um universo fantástico em que vão acontecer coisas que não necessariamente fazem parte da história medieval do mundo. Por isso que nessas histórias é comum encontrarmos magia de alguma forma, dragões e até outras raças como elfos, anões (edit: não estou falando aqui de pessoas com nanismo e sim da raça que aparece em muitos RPGs e histórias tipo Senhor dos Anéis), etc.

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