Escrevendo personagens bissexuais

THE LEGEND OF KORRA

Há alguns dias eu postei um texto sobre estereótipos que encontramos em personagens bissexuais na cultura pop. Eu terminei concluindo que o problema não é a característica clichê em si, mas como isso pode dar uma representação ruim como um todo, já que muitas vezes é a única que vemos. Personagens que se resumem ao estereótipo não são representações tão interessantes, mas quando isso é uma característica no meio de várias, ou um personagem bissexual no meio de outros, aí a representação pode ser mais positiva.

Isso tudo aqui é o ponto de vista de uma pessoa, então seguir as minhas dicas não significa que nenhuma outra pessoa bissexual no mundo não vai criticar a representação da sua obra. Mas ler sobre o assunto, ouvir as pessoas da minoria em questão e, mais importante, se permitir ouvir críticas e dicas pode ajudar.

Eu entendo que às vezes ouvir críticas não é fácil, principalmente no ponto de vista de representação. Isso é considerado uma característica secundária das obras, então há sim muitos artistas que acham que pensar criticamente sobre isso é “censura” ou “impedir minha arte de ser livre”. Mas assim como estamos dispostos a ouvir dicas sobre narrativa, revisão de texto ou formatação, também precisamos estar dispostos a ouvir quando o assunto é representação.

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Os estereótipos dos personagens bissexuais na cultura pop

From EPP

Dia 23 de setembro é o dia da visibilidade bissexual. Pois é, o B não é de banana, por mais que algumas pessoas insistam em ignorar as demandas dessa parte da comunidade LGBT+. Assim como as outras minorias, personagens bissexuais possuem um histórico cheio de problemas quando falamos de representação, então hoje vamos discutir um esses estereótipos na cultura pop.

Parece óbvio dizer que personagens bissexuais aparecem muito pouco na mídia. Com os anos, nossas opções para criar uma lista aumentam, incluindo alguns que realmente são positivos, mas ainda estamos muito longe de chegar em um ponto satisfatório. No relatório de 2016-2017 da GLAAD, foi estimado que apenas 4,8% dos personagens da televisão nos Estados Unidos eram LGBT+, ou seja, dentro desse número pequeno estão personagens gays, lésbicas, bissexuais, transexuais, etc.

Entre esses, 30% foram considerados bissexuais, um total de 64 mulheres e 19 homens. Considerando o número de séries na televisão dos Estados Unidos, esse número é muito pequeno. Sim, se juntar cinema, quadrinhos, jogos e outras mídias, certamente esse número vai aumentar, mas tente comparar com a imensidão de personagens heterossexuais em todas essas mídias. A situação está muito longe de se tornar um cenário considerado igualitário.

A questão não são só os números baixos, mas também o estereótipo em que esses personagens são colocados sempre que aparecem. Esse texto é para pontuar clichês que sempre caem em cima dos personagens bissexuais, que colabora para uma imagem preconceituosa que é feita do B no LGBT+.

Como os números do GLAAD apontam, mulheres bissexuais possuem mais espaço na mídia do que homens. Isso dá uma falsa impressão de que mulheres são mais aceitas, mas basta ver a representação dessas personagens para perceber que isso não é verdade. Mulheres bissexuais ouvem com frequência que na verdade elas são hétero, que gostam mesmo é de homem e só beijam mulheres em baladas. O típico comentário de gente que acha que sabe da sexualidade de alguém mais que a própria pessoa, né? Mas voltemos aos estereótipos.

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Os personagens LGBT+ de Dragon Age 2

Isabela's_Regret

Há alguns dias atrás eu postei sobre a representação LGBT+ de Dragon Age: Origins e, como prometido, vou continuar falando disso nos outros jogos da saga, então vamos falar do próximo na lista: Dragon Age 2.

O segundo jogo da franquia veio com muita polêmica. Lançado em 2011, Dragon Age 2 não era exatamente o que os fãs esperavam. A história épica de antes tinha diminuído e agora acompanhávamos Hawke, uma pessoa que fugiu do Blight de Ferelden, para começar a vida em outra cidade, Kirkwall. O jogo teve menos tempo de produção que os outros e de fato veio com alguns problemas, mas mesmo assim há muitas pessoas que gostaram da nova proposta e entraram de cabeça na nova história. Eu me incluo aí, apesar dos problemas, eu adoro Dragon Age 2.

Apesar de muitas críticas ao jogo serem válidas, outras eram feitas mais por questão de preconceito do que qualquer outra coisa. O jogo criou uma certa polêmica entre o fandom quando os jogadores viram que praticamente todos os romances eram bissexuais. A única exceção era Sebastian, um personagem que vinha na DLC, que era uma opção de romance hétero.

Na época, algumas pessoas ficaram revoltadas porque “Como assim quatro pessoas bissexuais no mesmo grupo? Isso não existe!”. Para essas pessoas, eu quase tinha vontade de chamar elas para sair com alguns grupos de amigos meus para ver que existe sim, mas só quase, porque eu não quero sair com uma pessoa que pensa isso. Brincadeiras a parte, muita preconceito rolou no fandom nessa época, até hoje a orientação de alguns deles é apagada por alguns fãs que acham muito surreal todos eles serem bissexuais.

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Os personagens LGBT+ de Dragon Age: Origins

lelianaa

Não é novidade para ninguém que me conhece, ou que acompanhe algumas coisas que eu faço, que eu sou apaixonada por Dragon Age. Atualmente é a minha franquia de jogos preferida por inúmeros motivos. Uma das coisas que sempre mexeu comigo nesses jogos é o fato de ter alguma preocupação com a representatividade nos seus personagens.

Eu vou dizer isso logo no começo: Com esse texto, não quero dizer que as representações em Dragon Age são perfeitas, nem que o jogo inteiro seja diverso o suficiente. Se tem uma coisa que eu sempre aponto em qualquer jogo, incluindo os da Bioware, é que sempre tem espaço para melhorar. Porém, como alguém que joga alguma coisa por aí, é difícil ver algum título que mostre qualquer coisa que fuja do padrão hétero e cis. Eu me vejo representada em Dragon Age de formas que às vezes não me vejo em outros lugares.

Então resolvi fazer uma série de textos falando sobre como a representatividade LGBT+ é tratada no universo de Dragon Age. Nesse primeiro texto, vou falar sobre o primeiro jogo da franquia, o Dragon Age: Origins.

Muitas vezes ouvimos falar sobre como o gênero da fantasia medieval não tem espaço para diversidade. Esse inclusive é outro assunto que eu falo muito, porque eu amo fantasia medieval e, como consumo muito, fico frustrada por não me sentir tão representada. Mulheres acabam aparecendo às vezes, mas personagens LGBT+ são poucos. Há essa ideia completamente errada de que não existiam pessoas LGBT+ “naquela época”. Eu já falei muito sobre isso, mas resumindo: “aquela época” nunca existiu e, mesmo que a fantasia medieval representasse fielmente a nossa época medieval (que não é o caso), não dá para dizer que só existiam pessoas cis e hétero.

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