Arlequina não quer mais saber do Coringa

harley

Aviso: Essa postagem contém spoilers das HQ da Arlequina, incluindo o volume 25.

Já comentei em alguns textos que não sou a maior leitora de quadrinhos. Tenho aumentado meu repertório de uns tempos pra cá, mas ainda é pequeno e são principalmente as publicações da Image Comics. Porém, como tem se falado muito dos personagens do Esquadrão Suicida, principalmente da Arlequina, resolvi ler os quadrinhos novos dela por curiosidade.

Essa semana saiu o volume 25 da HQ da Arlequina e em pouco tempo várias imagens surgiram na internet. Na hora que eu vi do que elas se tratavam eu senti algo que mal consigo descrever. Era um misto de alívio, satisfação e felicidade, o que me pareceu estranho depois que parei pra pensar porque eu nunca me considerei uma fã da Arlequina, não por nada, mas porque comecei a conhecer mais da personagem agora.

Pra quem não acompanha a HQ, mas quer ler a postagem mesmo assim, o que acontece é: Arlequina decide mudar de vida e vai para o Brooklyn, onde mora em um novo apartamento, com novos amigos, uma gangue e visitas periódicas da Hera Venenosa. Apesar de possuir métodos nada éticos, dá pra perceber que ela se preocupa com os outros e quer, do seu jeito, fazer o bem, continuando sempre bem-humorada.

Arlequina começa a sair com um cara chamado Mason, que algum tempo depois é preso e mandado para o Asilo Arkham. Sabemos que Arlequina já trabalhou lá e invadiu o lugar, então ela decide voltar para salvar Mason. Acontece que no meio disso, ela encontra o Coringa, que também está preso. Depois de uma briga entre os dois, Arlequina finalmente dá um ponto final no relacionamento abusivo que tinha com ele.

Pois é, isso mesmo que você está lendo, por mais que a HQ tivesse andando para esse lado, eu não achei realmente que algum dia veria, de forma tão gráfica e óbvia, a Arlequina terminando com o Coringa, mas foi isso que aconteceu, e é óbvio que o assunto principal do texto é esse, mas eu queria também falar de outras coisas que acontecem no quadrinho que levaram a isso.

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Remake de FFVII sem machismo. Será que rola?

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Eu sei que eu provavelmente estou entrando naquele território “perigoso” do mundo nerd. A Rebeca Puig (Collant sem Decote) e eu sempre falamos sobre como os fãs machistas de jogos são os piores, então pode ser cutucar a onça com vara curta falar, não de qualquer jogo, mas de um clássico dos videogames. Mas eu também sou fã de jogos e é meu espaço poder falar sobre eles, seja para elogiar ou criticar.

Ano passado foi anunciado o remake de Final Fantasy VII e eu nem conseguia explicar minha empolgação. Não tive PlayStation na época em que o jogo bombou, então tudo que joguei e vi era na casa de amigos enquanto eles jogavam. Isso junto com um inglês bem limitado, fez com que anos depois eu revisitasse os títulos da franquia que não pude aproveitar tanto, o VII incluído.

Final Fantasy VII é um clássico, um marco nos videogames, não só em jogabilidade, mas em história. Na época os críticos diziam que o jogo estava muito a frente de seu tempo. Até hoje Cloud é um dos personagens mais conhecidos de Final Fantasy e dos jogos em geral (e esse texto explica o quão importante ele foi e ainda é).

Dito isso, considerando ser um JRPG de 1997, não é de se surpreender que hoje vejamos problemas que não víamos antes. Quando começamos a problematizar as coisas, um passo importante é olharmos tudo aquilo que gostamos e entender pontos que não nos incomodávamos antes ou não percebíamos.

Quando comecei a listar, vi que FFVII tinha vários problemas. Acho que ninguém precisa excluir um jogo de 97 de suas boas memórias (a menos que queira) por causa disso, mas considerando que ele terá um remake nos tempos de hoje, época em que os debates sobre representação nos jogos estão tão em alta, é importante olharmos esses fatores. Eu sei que todo mundo quer ver um FFVII igual ao antigo com a mecânica melhorada, mas repetir momentos problemáticos do jogo, novamente, numa época que se fala tanto disso, é um tanto quanto irresponsável.

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Jessica Jones e os relacionamentos abusivos

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Prometi que ia fazer uma análise de Jessica Jones, né? Então vamos lá!

Nesse texto aqui eu fiz uma crítica da série como um todo, mas agora vou me focar na mensagem principal de Jessica Jones, que foi o que fez com que eu me apaixonasse por essa história: A representação de um relacionamento abusivo.

É comum vermos relacionamentos abusivos sendo retratados na mídia de forma romantizada. Cinquenta Tons de Cinza e Crepúsculo são exemplos fáceis de lembrar, mas se paramos para refletir sobre o assunto, veremos que várias outras histórias cometem o mesmo erro de mostrar um casal problemático como se fosse um exemplo a ser seguido.

Canso de falar que a representação é algo muito importante, o que você vê na mídia vai sim influenciar o jeito que você age e percebe o mundo, por isso que os comunicadores possuem uma responsabilidade muito grande. Quando romantizamos um relacionamento abusivo, passamos a mensagem de que esse é um relacionamento comum, que é normal agressão física ou psicológica, porque se você amar seu parceiro de verdade, ele vai mudar, né? Não.

Um dia desses me contaram uma história, não vou citar nomes para preservar a pessoa agredida, mas em resumo: A moça namorava o rapaz, depois de várias agressões resolveu largar dele, o rapaz fez um grande escândalo, falando que não ia mais comer nem trabalhar, enquanto dizia que ela era ingrata, porque tudo que ele fez foi ficar ao lado dela quando ninguém mais ficaria. A moça contou pra mãe do rapaz o que aconteceu e recebeu como resposta “Calma querida, ele vai melhorar, aguenta um pouco, ele errou, mas te ama. Ele vai perder o emprego se vocês terminarem, pensa nisso!”. O pior é que eu não estou inventando.

A cultura dos relacionamentos abusivos é tão enraizadas que até uma mulher diz para a outra que ela “deve aguentar um pouco”. Quando a sociedade normaliza esse comportamento, e sim, a representação faz parte dessa normalização, esse ciclo vai se repetindo e inúmeras mulheres sofrem.

Por isso é extremamente importante, ainda mais no momento atual em que vivemos, uma série como Jessica Jones, que não romantiza o que é problemático, que coloca na cara de todos os telespectadores o quão abusivo Killgrave é com Jessica, o quanto ela sofre com ele e o arco de sua personagem é o empoderamento e a superação de seu problema.

A partir daqui o texto terá spoilers de toda a primeira temporada de Jessica Jones. Lembrando que eu não li os quadrinhos, estou falando puramente do que vi na Netflix.

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