Life is Strange | Análise

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Life is Strange é um jogo que tem feito muito sucesso esse ano. Produzido pela Dontnod Entertainment e pela Square Enix, o jogo começou a ser lançado em janeiro desse ano e o capítulo final saiu em outubro. Sim, o jogo é dividido em cinco capítulos com duração de mais ou menos 4 horas. O jogo está disponível para PS4, PS3, XBOX ONE, XBOX 360 e PC.

O jogo conta a história de Max Caulfield, uma estudante de fotografia na faculdade de Blackwell, em Arcadia Bay. Max é uma moça tímida e com uma vida “normal”, até que em uma aula descobre que ela pode voltar no tempo e mudar coisas que já aconteceram. Com sua melhor amiga, Chloe Price, as duas tentam resolver alguns fatos estranhos que estão acontecendo na cidade, porém não percebem que brincar com o tempo pode ter consequências maiores do que imaginam.

Life is Strange tem uma história incrível, além dos personagens e conflitos serem muito bem escritos, o roteiro dos episódios sempre te deixa empolgado para o que está por vir. É o tipo de jogo que cada escolha, até as menores, podem afetar tudo. As escolhas maiores deixam o jogador pensando e você se vê abusando do poder de Max para voltar no tempo e tentar fazer outra coisa pra ver se é melhor, mas as maiores consequências você só descobre quando já é tarde demais.

Os controles são simples, não há batalhas e na maioria do jogo o jogador só precisa guiar Max, fazer as escolhas necessárias e investigar as áreas. Isso pode fazer o ritmo do jogo ser um pouco mais lento que o normal, ao mesmo tempo que isso é legal para jogadores novos se envolverem na história, pode ser um pouco cansativo para os jogadores que preferem mais ação (lembra o estilo filme de Heavy Rain e Beyond Two Souls).

Em geral o jogo inteiro é muito bem escrito, os personagens são dinâmicos e possuem vários lados que é interessante explorar, um personagem que você odiou no primeiro episódio pode se tornar um grande amigo nos últimos momentos do jogo e vice e versa. Alguns diálogos são um pouco longos e com exposição demais, o que também pode atrapalhar um pouco o ritmo do jogo, mas a experiência de jogar Life is Strange é tão única e divertida que vale a pena passar por essas partes mais chatas para aproveitar o jogo todo.

Em questão de representação, temos muitas mulheres incríveis no jogo. Além das duas personagens principais, Max e Chloe, temos outras personagens coadjuvantes interessantes como Joyce, Kate e Victoria. Uma coisa que achei interessante é como os meninos da faculdade que são mostrados como vilões xingam Max de “feminazi”, o que mostra como esse “xingamento” é errado de se usar. É uma pena não ter mais personagens negros e trans, mas há um sério clima rolando entre as duas personagens principais. Não vou falar muito essa parte por ser spoiler, mas eu garanto que tem representação LGBT+ no jogo.

Gostei muito de Life is Strange, apesar de algumas falhas, a história me envolveu do começo ao fim e conseguiu me prender no controle por dias. Espero que mais jogos como esse sejam lançados. Então se você não jogou e curte esse estilo de jogo, sugiro que dê uma chance!

Abaixo análise com spoilers dos cinco episódios.

A ideia principal da história gira ao redor da ideia da Teoria do Caos: “O bater de asas de uma borboleta em Tóquio pode provocar um furacão em Nova Iorque”. Logo quando vi a borboleta e o furacão no primeiro episódio a teoria veio na minha cabeça. Comentei com algumas amigas que como a borboleta era azul, da mesma cor do cabelo de Chloe, e salvá-la era o nosso primeiro ato de “mudar as coisas”, provavelmente era aquilo que tinha causado o furacão, até brinquei que a nossa última escolha seria entre salvar Chloe ou Arcadia Bay.

Às vezes eu odeio quando acerto.

Então vamos começar falando do final: Uma das escolhas mais doloridas do jogo inteiro: ter que escolher entre salvar a pessoa mais importante do mundo para Max ou salvar uma cidade inteira. No meu jogo escolhi salvar Arcadia Bay e ver Max ouvindo a morte de Chloe tudo de novo foi muito sofrido. Depois assisti o final em que salvamos a Chloe e, apesar de ter um final mais feliz para as protagonistas, de certa forma, achei mais decepcionante.

Muitas pessoas ficaram bravas com o final de Life is Strange e eu concordo e discordo. Concordo porque, do ponto de vista do roteiro, um final pareceu ser mais certo que o outro. O final em que Chloe morre parece fazer muito mais sentido, a escrita é melhor, mas dá um pouco da sensação de que apagamos tudo que acabamos de fazer. Quando parei pra pensar sobre, percebi que era uma sensação errada, afinal de contas mesmo que Chloe morra, conseguimos impedir a destruição da cidade e impedir que alguns assassinatos acontecessem na cidade. O final em que Arcadia Bay é destruída é legal por manter Max e Chloe juntas e também ter a sensação de que não foi tudo a toa, porém achei que não foi tão bem escrito quanto o primeiro. Eu não sei se colocaria um final muito feliz no jogo, então confesso que não achei tão ruim o final em que sacrificamos Chloe, apesar de partir o coração.

Aliás, ponto positivo pelo jogo ter colocado uma cena emocionante de beijo entre Max e Chloe (no final em que ela é sacrificada) e fazer elas dizerem “eu te amo” com todas as palavras. The ship is real.

Em algum lugar li uma vez que não adianta mudarmos o que deve acontecer com viagens no tempo, o destino sempre arrumaria um jeito de fazer a coisa acontecer. Eu vi isso em Chloe, quase todo o episódio Max tentava salvá-la da morte e só conseguia por causa de seus poderes, ou seja, se não tivesse esse poder, Chloe teria morrido, como se fosse seu destino morrer. Pra mim sempre foi óbvio que a escolha de Max seria sobre a vida de Chloe.

Isso trás uma reflexão interessante sobre o que vale mais a pena. Tirando questões de roteiro, para mim como jogadora, julguei mais certo uma pessoa morrer para que a cidade inteira pudesse ser salva. Porém a vida de Chloe também era importante, ela sofreu a vida toda, se sentia rejeitada por todos e merecia mais que morrer em um banheiro por alguém como Nathan. Chloe merecia mais, será que salvá-la independente de qualquer coisa é algo tão errado assim?

Adorei como o jogo conseguiu mostrar vários lados de um mesmo personagem. Vimos que Nathan não era completamente ruim, mas em momento nenhum o jogo passa a mão na cabeça dele, porque muitas coisas que ele fez foram horríveis. Victoria mostrou que era mais que a “vaca metida” que todos acreditavam, Kate tem uma história de superação muito bonita, sem perder as características importantes para sua personagem. Apesar de David ser horrível em vários momentos do jogo, ver que ele também tinha seu lado bom foi muito interessante. Não vamos esquecer também de Jefferson, o professor fofo que no final era um assassino.

Confesso que suspeitei de Jefferson lá pela metade do jogo, mas não deixa de ser algo surpreendente ver a revelação de que ele na verdade era um dos vilões. Aliás, Life is Strange sabe muito bem lidar com momentos surpreendentes, o final do terceiro episódio, em que vemos Chloe na cadeira de rodas, é um dos momentos mais intensos do jogo, junto com a hora em que elas encontram o corpo de Rachel enterrado. O jogo soube lidar muito bem com esses momentos emocionantes e é uma viagem jogar isso tudo.

A abordagem de como Max lida com os poderes também é muito bem feita, como aquilo vai afetando seu corpo, como ela perde o controle e seus poderes vão aumentando e ficando mais perigosos. Max aprende a voltar no tempo através de suas fotos, mas as consequências disso são muito maiores. Max é uma personagem muito bem feita, ela tem seu próprio estilo, sofre e mostra sentimentos, perde o controle, ama e chora…

O jeito que o jogo lida com a questão de “usar o tempo para salvar a pessoa amada” me lembra muito Efeito Borboleta. Faz tempo que vi o filme, mas lembro do personagem principal voltar no tempo várias vezes pra conseguir um futuro feliz pra ele e pra moça que ele amava, até que ele descobriu que a única forma dela ser feliz era sumindo da vida dela completamente.

As histórias de viagem no tempo normalmente tem esse lado, de que mudar o tempo nunca dá certo, por melhores que suas intenções sejam e sempre tem esse fator dolorido da vida pessoal. É um clichê, mas não vejo Life is Strange funcionando de outra forma. Seria interessante ver Max conseguindo usar seu poder sem destruir uma cidade inteira, sairia do que normalmente vemos, mas não acho que as escolhas do jogo em levar para esse final tenham sido erradas.

Life is Strange me deu uma experiência incrível e única nos jogos, então obrigada Square Enix.

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Um comentário sobre “Life is Strange | Análise

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