13 Reasons Why e os assuntos que precisam ser falados

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É muito raro encontrar alguma pessoa que não tenha passado por algum tipo de bullying na escola. Mesmo eu, que não passei por muitas coisas difíceis na época do colégio, passei por episódios de bullying e certos aspectos de mim hoje são por causa desses momentos. Infelizmente isso é muito comum para muita gente e pode acabar de forma ruim quando não damos a atenção que esse assunto precisa.

Suicídio é outro assunto delicado. É algo sempre pesado e que não sabemos bem como lidar. O assunto suicídio apareceu na minha vida quando eu era bem nova, dentro da minha família. Quem a gente culpa? Existem culpados? O que a gente faz? O que poderíamos ter feito diferente? Como você explica isso para adolescentes?

Eu quis começar falando um pouco da minha própria experiência com esses assuntos porque não tem como assistir 13 Reasons Why e não pensar na própria vida. Depois de assistir os treze episódios, entendo porque tantas pessoas se sentiram tão conectadas. A série conta a história de Hannah (Katherine Langford), ou melhor, de como ela morreu. Depois que ela comete suicídio, seu amigo Clay (Dylan Minnette) recebe uma caixa com treze fitas. Quando ele começa a escutar, Clay descobre que são fitas de Hannah, onde ela fala os motivos que a levaram a se matar. Cada fita é dedicada a uma pessoa que fez algo com ela de alguma forma e, se as fitas chegaram em Clay, é porque ele é um dos motivos.

A crítica não tem spoilers da série ou do livro em que ela foi baseada.

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A primeira coisa que você precisa saber é que essa é uma série pesada. Não só no sentido gráfico, mas por toda a temática e como os traumas de Hannah são mostrados. Aqui cabem vários TW: Estupro, abuso, exposição, agressão… Inclusive tem um aviso no começo dos episódios em que isso vai ser mostrado.

Mesmo com esses temas, eu não consegui parar de assistir desde o momento em que comecei a série. Não sugiro que vocês façam isso, mas eu só queria saber o que ia acontecer na próxima fita. Isso porque a série, em boa parte do tempo, te faz querer saber o que vem a seguir. Assim como Clay, nós também queremos saber o que mais Hannah tem a dizer.

O roteiro consegue guiar a história na maioria dos episódios, mas oscila a partir da segunda metade. A série tem como foco mostrar Hannah e Clay, mas também há espaço para desenvolver os personagens ao redor, como os outros alunos e os pais de Hannah. Quando a série chega na metade, a história perde um pouco o fôlego. Algumas coisas são repetidas e a impressão que dá é que a série poderia ter menos episódios, em alguns momentos dá para sentir que há certa enrolação. É interessante que cada fita seja um episódio, assim cada um dá espaço para um personagem diferente, mas depois de algumas horas dessa fórmula, o ritmo pode ficar maçante. Há também resoluções para certas questões que acabam contradizendo alguns aspectos levantados pela série.

Os problemas que Hannah enfrenta conversam com o telespectador em boa parte da série. Eu nunca passei por várias coisas que Hannah passou, mas muitos dos abusos são coisas que eu consigo sentir empatia por ser uma mulher. O fato de tudo isso acontecer como forma de bullying na escola já permite que a conexão com o público seja feita. Hannah é uma adolescente insegura que não encontra seu lugar, assim acaba sofrendo na mão de pessoas em que ela confiava e isso é algo que muitos de nós passamos de alguma forma.

Os personagens vão sendo aprofundados ao longo dos episódios. Até parte daqueles que maltrataram Hannah recebem profundidade, mas a série não tenta justificar as ações mais graves. Cada atitude é tratada com o peso que ela tem, brigar com Hannah é bem diferente do que tentar abusar dela. Também é interessante como alguns desses personagens têm espaço para mostrar coisas além do ponto de vista de Hannah, que dá outra dinâmica.

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A história é bem crua e não tem medo de mostrar o quão problemáticas eram várias situações na vida de Hannah, por um lado isso é bom. A série não evita a palavra “estupro” e a história não passa pano nesses momentos. Por outro lado, a forma que essas cenas eram tratadas é péssima. Todas as cenas de estupro, no plural mesmo, são bem gráficas e desnecessárias. Eu entendo que eles queriam mostrar tudo de forma crua, mas não há necessidade de realmente vermos essas agressões. Parte das pessoas que vão assistir 13 Reasons Why são mulheres que passaram por coisas similares, então colocar as cenas dessa forma pode ser um gatilho muito grande. Se eu, que nunca passei por nenhuma situação dessas na vida, já fiquei extremamente incomodada, será muito pior para alguém que infelizmente passou por isso.

É muito importante ter uma série que fale sobre esses assuntos. 13 Reasons Why mostra como o machismo pode sim arruinar a vida de meninas, como existe masculinidade tóxica e que muitas “brincadeiras” são bem mais sérias do que nós damos o crédito. Porém, tenho minhas dúvidas quanto ao jeito que ela trata a questão do suicídio.

Quando falamos sobre suicídio, é muito complicado falar em culpa. Hannah lista todas as pessoas que foram “culpadas” pela sua vida ter acabado, e algumas delas definitivamente cometeram crimes contra ela, mas essa é uma discussão delicada. Em alguns momentos, a série parece simplificar a discussão, mais preocupada em apontar culpados específicos do que ampliar o assunto. Esse assunto não é simples e a série acaba diminuindo isso em certos momentos. Por outro lado, em certas partes a história acerta mostrando como esses assuntos são tratados com descaso. As pessoas ainda não acreditam quando uma moça acusa alguém de estupro. Muitos ainda encaram bullying e saúde mental como “frescura”. Eu já ouvi de um profissional que dava palestras motivacionais que “bullying ajuda a formar caráter”.

A história consegue pegar o espectador não só por tratar desses assuntos, mas exatamente por nos mostrar a história de uma pessoa específica. Falar o número de adolescentes que cometem suicídio nunca será tão emocional quanto mostrar a história de um deles, nos fazendo conhecer essa pessoa que decidiu tirar a própria vida. O suicídio que aconteceu dentro da minha família sempre vai mexer comigo de forma mais pessoal do que pesquisas que sejam feitas sobre esse assunto.

13 Reasons Why é uma série que aborda assuntos importantes e atuais, que precisam ser falados sem julgamentos. Saúde mental, suicídio e crimes de ódio contra mulheres precisam ser levados a sério, porque todos esses assuntos são ignorados e encarados com menos seriedade do que deveriam. Narrativamente falando, a série não acerta sempre e às vezes diminui algumas discussões mais sérias, mas ela trata de temas que, caso você esteja disposto a ver esses assuntos pesados, vale a pena conferir.

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