Sense 8 | Primeira Temporada

Como prometido no texto 8 motivos para você assistir Sense8 (que aliás bombou de visualizações! Obrigada!), aqui está a crítica da primeira temporada.

Sense8 conta a história de 8 pessoas que levavam suas vidas normalmente, até que um dia elas são conectadas umas às outras. Além de precisarem se juntar para vencer uma conspiração, precisam também se ajudar em seus dramas pessoais.

É uma série diferente, o roteiro tem outra cara e isso pode incomodar, mas vale a pena. Em Sense8 os episódios são muito mais interligados que o de outras séries, assumindo que quem vai assistir irá ver uns três episódios seguidos. Há várias partes que a série deixa a história principal de lado para focar no desenvolvimento dos personagens.

A montagem ajuda muito essa linguagem, com vários eventos acontecendo ao mesmo tempo em vários lugares do mundo, a montagem dá a dinâmica necessária para a série não ficar parada. Já que o roteiro não é sempre focado na trama principal, que às vezes parece ficar “de lado”, a montagem faz um papel importante aqui. É muito parecido com a pegada de Cloud Atlas (A Viagem). Eu sei, muita gente não gosta de Cloud Atlas (eu amo), mas Sense8 acerta em pontos que o filme errou, o formato de série dá mais espaço e liberdade para que essa narrativa funcione.

Os personagens movimentam a história, além de os 8 sensate serem diferentes e cativantes, a série foca bastante tempo no desenvolvimento de cada um, em alguns episódios já deu para sentir como todos eram densos. Sempre acaba tendo os que são mais importantes, mas nenhum deles parece ficar muito de lado. Além dos principais, os personagens secundários também são ótimos, destaque para Amanita.

Como são ligados, sempre que dois sensates estão sentindo algo parecido, ou precisam de algo que um outro saiba muito bem, há um encontro. No começo há um estranhamento, mas ao longo da série eles vão ficando mais conectados e entendendo como aquilo funciona, aparecendo quando necessário.

Representatividade é sempre algo positivo e a série acerta muito nesse sentido. Como já apontado no outro texto, há representatividade de mulheres, pessoas negras, pessoas LGBT+… O relacionamento de Nomi com Amanita é uma relação incrível, Sun é a pessoa pra quem todos pedem ajuda na hora da briga… Infelizmente momentos assim ainda não são tão comuns quanto gostaríamos.

Como toda a série, também há problemas. Ao mesmo tempo em que a série mantém a audiência perdida em vários aspectos, em outros ela exagera nas explicações, ao mesmo tempo que os diálogos podem ter um significado profundo, eles são feitos de tal forma que pode ser difícil de engolir. Há um exagero também no uso de flashbacks, que são curtos e aparecem para explicar algo que já está sendo dito pelo personagem. Usando o exemplo de Lost (inclusive porque temos Naveen Andrews no elenco, eterno Sayid), os flashbacks explicavam algo que não estava sendo dito ou não podia ser dito (passado de Kate, por exemplo), no Sense8 às vezes ficam too much.

Outro erro da série, que elogiei um dia desses em O Demolidor (também da Netflix) é que, apesar da série se passar em diferentes lugares do mundo e isso ser bem interessante, em todos os países eles falam inglês. Entenderia se nas cenas entre os sensates eles falassem em inglês entre si, mas Sun falando inglês com seus colegas de trabalho, no meio de Seul? Wolfgang xingando em inglês em Berlim?

Mesmo com deslizes, Sense8 é muito bom e vale a pena! Mesmo que esse modelo não agrade alguns (vejam as reações mistas quando saiu Cloud Atlas), só o fato de a série ser diferente e apresentar algo novo já é ponto positivo, com representatividade, mais pontinhos. Além disso, adicione ficção científica, um roteiro cheio de mistério, personagens sensacionais e ação que temos Sense8.

Abaixo análise com spoilers

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Vamos começar com o que são os sensates, ou pelo menos o que sabemos até agora. Jonas é o personagem que mais dá informações sobre o que eles são (apesar de que a mulher que fala com Riley nos faz questionar as intenções dele). Sensates são pessoas que nasceram no mesmo dia, provavelmente no mesmo horário também, e compartilham sensações, pensamentos e habilidades entre si. Aparentemente, os 8 principais só começaram a sentir essa ligação depois da morte de Angelica, no começo do primeiro episódio, ela “deu à luz” àquele grupo.

Na primeira cena, Angelica parece estar tendo dores de parto e depois se mata para não ser pega e “protege os outros”. Esse evento não pode ter acontecido muito antes do momento em que a série se passa, já que Will encontra vestígios do incidente mais tarde e Jonas não envelhece. Também não pode ser um dom “dado” aleatoriamente por alguém, já que Jonas disse que eles têm algo diferente nos genes que os permite se conectarem com seu grupo.

Jonas dá a entender que antes eles eram a maioria, mas que o número de sensates no mundo foi diminuindo. Talvez seja um gene latente que precisa ser “ativado” por algum outro sensate? Espero que tenhamos maiores explicações na próxima temporada.

Como já dito antes, o roteiro pode se perder às vezes quando se preocupa mais com as histórias pessoais do que com a trama principal, porém os dramas pessoais estão ligados com o todo. A mãe de Nomi tenta forçar uma cirurgia nela que é parte da conspiração dos “Sussurros”, os vilões da série, Kala trabalha numa empresa que é mencionada em outros núcleos, Will encontra os restos do que aconteceu com Angelica… É bem possível que ao longo das temporadas nós vamos ver que os detalhes interligados de cada história fazem parte dessa conspiração.

O núcleo mais “tranquilo” em geral é o de Kala. Enquanto todos estão envolvidos em alguma perseguição ou ação ilegal, o drama dela é mais familiar, ficando maior quando o pai de seu noivo é assassinado. Pode até ficar “sem graça” perto dos outros, mas acho que isso dá mais variedade para a série. Kala não luta como Sun e não sai atirando como Wolfgang, mas ela é forte de outras maneiras. Nas suas próprias palavras: “Não sou como Sun, não sei usar meus punhos, mas isso não significa que eu não saiba lutar”. Acho que falta personagens com o tipo de força dela na ficção, que não usa violência, mas que não é indefesa. Mas também é muito divertido ver Sun quebrando todo mundo, ver homens pedindo ajuda para ela quando percebem que vão ter que entrar numa luta física. A maioria provavelmente deixaria o papel de “lutador” com Wolfgang ou Will, mas Sense8 aponta para Sun. A série acerta em mostrar tipos diferentes de “ser forte”.

Todos os personagens têm uma função no grupo. Uma combinação de pessoas bem diferentes forma um organismo que funciona e não pode ser parado. Em uma época que cada vez mais as pessoas se preocupam mais com o “eu” do que com o “nós”, a série aponta como sozinhos temos falhas, porém juntos somos mais fortes. Será que haveria tantas injustiças e mortes no mundo se todos fossem conectados e pudessem sentir como os outros? Isso é uma questão que Jonas levanta quando fala da diferença de genes dos sensates.

Já apontei que os diálogos muitas vezes podem ser difíceis de aturar, mas há alguns que passam mensagens muito fortes. Um menino negro diz para Will que quando um policial morre, passa na televisão direto, mas eles morrem o tempo todo e ninguém liga. Nomi fazendo um discurso de aceitação quando Lito não sabe o que fazer em seu relacionamento. Capheus dizendo para Kala que a vida é violenta. Jonas dizendo para Will que a sociedade que conhecemos se baseia em mentiras.

É uma série que fala de aceitação e sobrevivência, que mostra que somos muito diferentes e há muitas pessoas lá fora, muito mais além do mundo do “eu”. Não sabemos exatamente quais são as intenções dos vilões, mas eles caçam sensates. As pessoas diferentes que vivem em grupos e não individualmente, como o resto da sociedade. Jonas diz que quando a maioria deixou de ser sensate, as guerras e destruições se tornaram mais comuns, “Matar é fácil quando você não sente nada”.

Sempre que tem uma guerra, alguém sai lucrando muito. Pessoas que saem pregando discurso de ódio e empresas que exploram até não poder mais seguem o cheiro do dinheiro. A partir de catástrofes, uma minoria poderosa consegue lucrar muito. Será que essa conspiração da série vê nos sensates um jeito de viver que pode acabar com esse dinheiro deles que vem de sangue? Caso Sense8 siga por essa linha, seria uma boa crítica à sociedade, não só pela questão do dinheiro, mas também por não nos importarmos com os outros já que nos falta essa “conexão”.

O final, mesmo que não explique muito, é bem satisfatório. A expectativa para o encontro de todos os personagens era grande, esperava que eles fossem se ver ao vivo, mas o final foi bem feito. No momento em que percebemos que Riley pode passar pelo mesmo que Nomi quase passou, já começa a ansiedade de saber se os outros vão chegar salvá-la a tempo. Aqui, mais do que nunca, todos os sensates estão se unindo para derrotar o inimigo em comum.

A série dá uma espécie de volta completa quando Will olha nos olhos de um dos Sussurros, coisa que Jonas diz que ele não pode nunca fazer e que parece ser o motivo de Angelica ter se matado. Will segue os mesmos passos, ele não se mata, mas fica desacordado e confia em Riley para tirá-lo de lá, porque se ele ficar acordado, serão pegos, uma vez que agora o Sussurros está na mente de Will. Não sei se isso continuará na próxima temporada, se acharão uma cura pro Will ou se era só algo momentâneo (mas se é, por que Angelica se matou?), mas com certeza não foi a última vez que vimos os Sussurros.

Sense8 é uma série que abre espaço para muitas interpretações e teorias, o que pra mim, pessoalmente, deixa uma história muito mais interessante. Vamos torcer para que a série não se perca e que a segunda temporada chegue logo!

Um comentário sobre “Sense 8 | Primeira Temporada

  1. Adorei essa série, estou até com medo da segunda temporada.
    Sobre a questão da linguagem até que achei positiva a explicação que é dada, durante os episódios fica subentendido que cada um fala a própria língua, mas que o expectador ouve em inglês, como se fosse uma história dublada, claro q seria muito melhor ter ouvido o idioma de cada um o tempo todo, mas achei legal ter deixado claro na série que eles falam os idiomas nativos e vc que ouve no seu, como aquele recurso em hq de por o diálogo entre símbolos.

    A maior parte das críticas q li falou sobre os diálogos, mas o q realmente me incomodou na série foi o exagero caricatural de algumas cenas, toda aquela cena de passado da Riley é tão absurda, a mulher sai numa nevasca em trabalho de parto, sofre um acidente, tem o filho, fica de boa, quebra a janela com as mãos e anda nas montanhas, sei lá parece que tinham que mostrar de uma vez só tudo de ruim q podia acontecer. Outra coisa é o núcleo mexicano, embora eu tenha simplesmente me apaixonado pelos 3 personagens me soou muito estranho aquela mina tratando o casal como um pornô 3D, e a naturalidade como eles aceitam. Queria ouvir a opinião da comunidade LGBT sobre a série.
    Amanita é muito amor.

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